Yoshinori Ono: “A Capcom pôs-me no hospital”

Yoshinori Ono, produtor de Street Fighter IV e principal Relações Públicas da editora japonesa Capcom, está a recuperar de um colapso sofrido no passado mês de abril. Na sua primeira entrevista após a falha de saúde, Ono não poupa críticas à companhia que representa.

Ono já habituou os jogadores à sua presença animada e proximidade com a comunidade junto da qual representa a Capcom. O seu riso contagiante e cara bem disposta é uma presença constante em eventos onde a empresa tem investido num novo jogo de combate que precisa de promover. Por isso, quando Ono desapareceu do mapa após um colapso súbito em abril, muitos temeram o pior. O silêncio da Capcom em relação ao assunto fomentou rumores de que Yoshinori Ono teria até morrido de doença súbita. Os rumores foram silenciados após pouco tempo, quando Ono reapareceu tão subitamente como desapareceu, embora visivelmente mais fraco.

Agora o produtor explica o que realmente se passou. “Se eu disser o que realmente se passou, sou despedido, por isso quero que o digam por mim: a Capcom pôs-me no hospital”, disse numa entrevista à Eurogamer. Ono terá sofrido um colapso na casa de banho de sua casa após várias sessões contínuas a promover jogos para a Capcom por todo o mundo. Quando levado ao médico, este terá dito que o nível de toxicidade no seu sangue era semelhante ao de alguém que tinha acabado de correr uma maratona. Ono foi forçado a ficar internado em repouso durante uma semana antes de voltar ao trabalho.

Mas as acusações não terminam.. “Quando voltei ao trabalho a Capcom nem reconheceu que estive no hospital. Não houve qualquer alteração na minha carga laboral.  Quando cheguei à secretária tinha um bilhete de avião para Roma à minha espera. Não há piedade”.

Ainda segundo Ono, isto é normal na empresa. “Enquanto estive no hospital, fiquei a pensar: houve tanta gente que desapareceu na Capcom ao longo dos anos em certas alturas. Subitamente, naquela cama percebi o que lhes tinha acontecido. No dia em que se finaliza o desenvolvimento de um jogo e ele segue para a fábrica, de repente há 10 secretárias vazias e ninguém volta a ver os seus ocupantes”.

Depois do sucesso de Street Fighter IV, uma franquia que o próprio Yoshinori Ono ressuscitou, foi promovido a produtor chefe de todos os jogos de luta da Capcom, o que corresponde a uma boa fatia dos lucros totais da empresa. A adicionar a isso as suas funções de relações públicas, Ono tem um cargo de peso dentro da empresa. Resta ver como e se a Capcom vai reagir às acusações, ou se, como tem feito até agora, simplesmente finge que nada de errado aconteceu.

O tópico de estúdios que forçam os seus colaboradores a fazerem horas extraordinárias e esforços sobre-humanos para atingirem objetivos impostos pelas editoras não é novo. Aliás, podem inclusive determinar todo o destino desse mesmo estúdio, como se viu recentemente com o infame exemplo da Team Bondi, que apesar de ter atingido o sucesso comercial e crítico com L. A. Noire, viu-se envolvida logo de seguida num escândalo após centenas de acusações anónimas por parte de trabalhadores da empresa terem acusado a mesma de trabalharem em regime de “escravatura” para cumprirem o calendário de lançamento do jogo. Devido às acusações feitas, e apesar do lucro que L. A. Noire trouxe para a empresa, o estúdio foi despromovido pela editora Rockstar, obrigado a fazer jogos secundários, e eventualmente forçou-se o seu encerramento.

Quanto a Yoshinori Ono, resta ver se irá manter-se na empresa ou se a abandona como outros grandes nomes fizeram recentemente. Por exemplo Keiji Inafune, criador de Mega Man, que deixou a empresa em circunstâncias misteriosas, Ben Judd, produtor de Bionic Commando, ou Yoshiki Okamoto, um dos principais nomes por trás de Street Fighter e Resident Evil, as duas grandes sagas da editora.

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