Nos últimos tempos, o TikTok tem estado no epicentro de várias polémicas, especialmente relacionadas com a gestão e uso dos dados privados dos seus utilizadores. A preocupação não é infundada, tendo em conta as suspeitas que pairam sobre a possível utilização destes dados pelo governo chinês. Esta situação levou a que os Estados Unidos considerassem o bloqueio da aplicação, a menos que a sua venda seja concretizada nos próximos meses.
Não é apenas nos Estados Unidos que estas preocupações ganham forma. No Canadá, o diretor dos serviços de inteligência, David Vigneault, expressou recentemente numa entrevista que o TikTok pode ser parte de uma estratégia mais ampla do governo chinês para recolher dados pessoais dos utilizadores. Esta estratégia, apesar de parecer inofensiva, especialmente porque muitos dos utilizadores da plataforma são jovens, tem implicações a longo prazo que podem comprometer a segurança nacional.
A principal inquietação reside na possibilidade de uma recolha massiva de dados ser utilizada para influenciar e manipular indivíduos no futuro. Vigneault alertou que, se por algum motivo, alguém se tornar um alvo de interesse para a China, este país terá à sua disposição uma vasta quantidade de informação sobre essa pessoa.
A capacidade da China de acessar informações de milhões de pessoas em todo o mundo é uma crescente preocupação. O uso de big data, o desenvolvimento de inteligência artificial, e a existência de enormes “fazendas” de computadores dedicadas ao processamento destes dados são alguns dos pontos destacados por Vigneault. Este cenário é agravado pelo facto de a China ter aprovado leis que exigem a colaboração dos seus cidadãos com os serviços de inteligência, independentemente do lugar onde residam.
Em resposta a estas preocupações, o Canadá proibiu o uso do TikTok em dispositivos oficiais dos seus funcionários federais já em fevereiro de 2023. Por outro lado, a ByteDance, empresa proprietária do TikTok, nega categoricamente estas acusações. Afirmam que os dados dos utilizadores dos Estados Unidos e da Europa são armazenados em servidores da Oracle nesses mesmos territórios. Ainda assim, projetos de reestruturação corporativa como o “Project Texas” e o “Project Clover” foram iniciados, embora haja relatos que sugerem que estes esforços possam ser maioritariamente superficiais.
Na minha opinião, é fundamental que existam mecanismos de transparência e regulamentação que assegurem a proteção dos dados dos utilizadores, sem comprometer a liberdade e a inovação que caracterizam o espaço digital. A colaboração internacional e a criação de normas globais poderiam ser passos importantes nesta direção, garantindo que a tecnologia sirva os interesses dos utilizadores e não seja um veículo para interesses geopolíticos ou de vigilância massiva.
Fonte: First Post