Nos últimos 40 anos, a parceria entre Microsoft e Intel, conhecida como “Wintel”, tem dominado o mercado de PCs. Contudo, essa hegemonia pode estar prestes a mudar. Cristiano Amon, CEO da Qualcomm, prevê que os sistemas ARM poderão representar 50% do mercado de PCs com Windows antes de 2030. Embora essa previsão possa parecer ousada, há razões concretas para acreditar que ela se tornará realidade.
Desde a década de 1980, os PCs com Windows têm sido sinónimo de CPUs Intel. A arquitetura x86 da Intel tornou-se a base para a maioria dos sistemas operacionais, incluindo o Windows. Até mesmo a Apple, que inicialmente utilizava CPUs Motorola/IBM PowerPC, acabou por adotar os chips Intel para os seus computadores. A única concorrência significativa para a Intel no espaço x86 tem sido a AMD, que, apesar de ter ganho terreno, ainda detém apenas cerca de 20% do mercado.
A verdadeira ameaça à dominância da Intel não vem da AMD, mas sim da arquitetura ARM (Advanced RISC Machine). Diferente da x86, a ARM é conhecida pela sua eficiência energética e desempenho, características que a tornaram a escolha ideal para dispositivos móveis. A Apple, por exemplo, decidiu em 2020 migrar todos os seus sistemas Mac para os seus próprios SoCs baseados em ARM, abandonando os chips Intel. Esta mudança revelou-se um sucesso, com os novos MacBooks a oferecerem um desempenho superior e uma duração de bateria impressionante.
A Microsoft também tem explorado a possibilidade de utilizar a arquitetura ARM há mais de uma década. Em 2012, Steven Sinofsky, antigo líder do Microsoft Surface, apresentou o Windows RT a correr num tablet Surface RT baseado em ARM. Embora o projeto não tenha tido sucesso na altura, a visão de um Windows a correr em ARM nunca morreu.
Nos últimos anos, a Microsoft tem colaborado com a Qualcomm para desenvolver a série SQ de processadores ARM para os seus dispositivos Surface Pro. No entanto, estes esforços iniciais não conseguiram captar a atenção do mercado. A principal razão parece ser a falta de uma mudança significativa no Windows para tirar pleno proveito da arquitetura ARM.
Recentemente, a Qualcomm lançou os processadores Snapdragon X-Plus e X-Elite, que prometem revolucionar o mercado de laptops com Windows. Estes novos chips não só são eficientes e poderosos, como também incluem unidades de processamento neural (NPUs) dedicadas a operações de inteligência artificial (IA). A combinação de CPUs ARM, Windows, NPUs e o Copilot da Microsoft cria uma plataforma robusta e eficiente.
Os novos laptops equipados com Snapdragon X-Plus e X-Elite prometem uma duração de bateria que pode ultrapassar as 24 horas e um desempenho superior, mesmo em tarefas intensivas de IA. Além disso, a Microsoft desenvolveu o Prism, um software de emulação semelhante ao Rosetta 2 da Apple, que permite que estes sistemas corram uma vasta gama de software x86.
Na minha opinião, estamos à beira de uma transformação significativa no mercado de PCs. A era do Wintel pode estar a chegar ao fim, e a era dos PCs com ARM está prestes a começar. Intel terá de se adaptar a esta nova realidade ou arrisca-se a perder a sua posição dominante. Os consumidores, por sua vez, têm muito a ganhar com esta mudança, beneficiando de dispositivos mais eficientes, poderosos e com maior autonomia.
Fonte: Techradar