A Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido (CMA) anunciou recentemente o início de uma investigação formal para determinar se o acordo entre a Microsoft e a Inflection AI constitui uma “fusão” e, em caso afirmativo, se poderá ter um impacto negativo no setor tecnológico. Este desenvolvimento marca mais um capítulo na relação complexa entre o regulador britânico e a gigante tecnológica americana.
Esta não é a primeira vez que a Microsoft e a CMA se encontram em lados opostos. Anteriormente, a aquisição da Activision Blizzard por parte da Microsoft, num negócio avaliado em 69 mil milhões de dólares, foi alvo de um longo e exaustivo escrutínio por parte do regulador britânico.
Este processo, que envolveu várias fases de investigação e negociações, culminou com a aprovação do acordo, mas não sem antes levantar várias questões sobre a concentração de poder no mercado dos videojogos.
O Acordo com a Inflection AI
A investigação atual centra-se num acordo inusitado entre a Microsoft e a Inflection AI, anunciado no início deste ano. A Microsoft comprometeu-se a investir 650 milhões de dólares na Inflection AI, em troca de licenciamento de software e a transferência de parte do pessoal da Inflection AI para a Microsoft.
Este movimento levantou suspeitas de que poderia tratar-se de uma fusão disfarçada, o que motivou a intervenção da CMA.
Mudanças na Inflection AI
Antes deste acordo, a Inflection AI estava a preparar o lançamento de um chatbot chamado PI, destinado a competir com soluções de inteligência artificial como o Copilot da Microsoft, o ChatGPT e o Gemini da Google. No entanto, após o acordo, a empresa mudou o seu foco para o mercado corporativo e viu grande parte do seu talento ser absorvido pela Microsoft.
Mustafa Suleyman, cofundador do prestigiado laboratório de IA DeepMind, que era CEO da Inflection AI, passou a ocupar um cargo de liderança na área de inteligência artificial na Microsoft, levando consigo a maioria dos empregados da Inflection AI.
A Investigação da CMA
Em abril, a CMA iniciou uma “investigação de fase 1” aberta a comentários públicos. A 16 de julho, o procedimento foi oficializado. O regulador britânico quer determinar se o acordo entre a Microsoft e a Inflection AI deve ser considerado uma fusão ao abrigo das disposições sobre fusões da Lei de Empresas de 2002. Caso seja considerado uma fusão, a CMA pretende avaliar se o acordo pode resultar numa diminuição da concorrência no mercado.
A decisão final sobre se o acordo receberá o aval da CMA ou se a investigação avançará para uma nova fase de escrutínio mais rigoroso será conhecida a 11 de setembro deste ano. Até lá, a indústria tecnológica estará atenta ao desenrolar desta investigação, que poderá ter implicações significativas para o futuro da inteligência artificial e para a posição da Microsoft no mercado.
Pressões Regulatórias Anteriores
A Microsoft já sentiu a pressão de reguladores em outras ocasiões, especialmente no campo da inteligência artificial. A empresa, que investiu mais de 10 mil milhões de dólares na OpenAI, conseguiu inicialmente um lugar de observador no conselho de administração da startup.
No entanto, devido ao aumento do escrutínio antitrust, a Microsoft foi forçada a abandonar essa posição. A Apple, que também tinha um lugar similar previsto, optou por seguir o mesmo caminho.