Dois engenheiros informáticos seniores do Facebook admitiram não saber onde são armazenados os dados dos utilizadores nem, tão pouco, o que lhes acontece.
As afirmações foram feitas durante uma audiência nos Estados Unidos relacionada com o escândalo da Cambridge Analytica, no qual dados de 87 milhões de utilizadores da rede social foram parar às mãos da empresa de comunicação política e possivelmente utilizados para manipulação. As declarações vieram a público esta semana e foram noticiadas pelo Intercept.
Na audiência, os dois informáticos, ambos com mais de 20 anos de experiência, foram questionados sobre onde são armazenados os dados recolhidos dos utilizadores. “Não acredito que haja uma única pessoa que possa responder a essa pergunta”, respondeu Eugene Zarashaw, diretor de engenharia do Facebook. “Seria necessário um esforço de equipa muito significativo para poder responder a essa pergunta”, acrescentou.
E como são rastreados os dados de determinado indivíduo? A resposta foi parecida: “seria necessário várias equipas de anúncios para rastrear exatamente por onde os dados fluem. Eu ficaria muito surpreendido se encontrarem alguém que possa responder a essa pergunta estreita de forma conclusiva”, disse Zarashaw.
A audiência teve de se realizar, uma vez que a Justiça não conseguiu obter dados do Facebook neste processo, que já dura quatro anos. Quando os juízes solicitaram à Meta que lhes enviasse as informações que tinha recolhido sobre os autores do processo, o Facebook enviou apenas as que estão disponíveis quando os utilizadores também querem descarregar os seus dados.
O que a rede social armazena, no entanto, é um volume muito maior de dados que o Facebook não consegue organizar de forma transparente devido a restrições técnicas, explica.
Zarashaw explica que o Facebook tem “uma cultura de engenharia um pouco estranha em comparação com a maioria das empresas, na qual não geramos muitos suportes durante o processo de engenharia. O código é frequentemente o seu próprio documento de design. Isso também foi assustador para mim quando entrei para a empresa”.
Ao Intercept a porta-voz da Meta, Dina El-Kassaby, disse que não é surpresa que os engenheiros não saibam onde os dados são armazenados. “Fizemos e continuamos a fazer investimentos significativos para cumprir com os nossos compromissos e obrigações de privacidade, incluindo amplos controlos de dados”, finalizou.