Polémica com a Cambridge Analytica ainda está para durar

Aleksandr Kogan, o académico que criou a aplicação — “thisisyourdigitalife” — que está no centro da polémica recolha de dados dos perfis de 87 milhões de dados de perfis de Facebook, prestou declarações ao parlamento britânico e, como se costuma dizer em português vernáculo, “pintou a manta”. Num documento divulgado a 16 de abril, Kogan afirmou que a universidade de Cambridge tinha aprovado no conselho de ética todos os estudos que publicou. Agora, o The Guardian avança que, em 2015, dois trabalhos do académico foram chumbados por a abordagem do Facebook ao consentimento dos utilizadores “não cumprir as expectativas éticas da universidade”.

Aleksandr Kogan afirmou que o diretor-executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, mentiu no seu testemunho ao afirmar que os dados não vinham da Global Science Research, empresa de pesquisas do académico. Kogan disse ainda que a rede social passa por uma crise de relações públicas e que “é conveniente apontar o dedo para apenas uma pessoa”.

A afirmação do comité de ética da universidade defende duas das críticas que lhe foram apontadas. A primeira, referente à crítica de Mark Zuckerberg no Congresso americano. O fundador da rede social mais utilizada em todo o mundo criticou a forma como Cambridge avaliava trabalhos académicos, assegurando que era fundamental analisar e perceber o que se estava a passar: “Precisamos de perceber se se passa alguma coisa má na Universidade de Cambridge.” A segunda contra os argumentos de Aleksandr Kogan: “Todo o meu trabalho académico foi revisto e aprovado pelo comité de ética da Universidade.”

Segundo dados obtidos pelo mesmo meio, em 2015 o instituto de ensino chumbou dois trabalhos de Kogan porque “a política de privacidade do Facebook [entretanto alterada] não é suficientemente esclarecedora”. Num recurso para o comité de ética do instituto, Kogan defendeu-se e disse que os “dados dos utilizadores são recolhidos e utilizados por milhares de empresas”.

O mesmo comité afirmou que os dados recolhidos por Kogan de amigos de utilizadores que utilizaram a aplicação não eram de acesso público. O mesmo painel de revisores académicos criticou a rede social por, na altura, não ser clara com os utilizadores a explicar que esta recolha de dados podia ser feita pelas aplicações, mesmo que não as utilizassem.

O académico, em entrevista à CBS este domingo, afirmou que “na altura achávamos que não havia problema, mas agora a minha opinião mudou”. Ao mesmo meio, Kogan disse ainda, relativamente aos dados que ajudou a Cambridge Analytica a recolher: “Não foi nem correto nem sábio, e, por isso, peço desculpa”.
Kogan tem afirmado por diversas vezes que os dados que recolheu para a Cambridge Analytica eram “norma em todas as aplicações do Facebook”. Em 2014 a rede social alterou as normas da rede social impedindo, por exemplo, que os utilizadores permitam o acesso a informações de amigos na rede, a componente crucial para a app de Kogan ter funcionado.

O caso não só levou esta terça-feira Kogan ao parlamento britânico a prestar declarações numa comissão de investigação, como levou Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, a pedir desculpas em entrevista à CNN e ao Congresso americano. O parlamento europeu pediu, na semana passada, que Zuckerberg prestasse também declarações aos eurodeputados. Ao todo, foram 87 milhões os utilizadores afetados, dos quais 63 mil portugueses.

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