Opinião: Os impactos do coronavírus na economia chinesa, na produção e desenvolvimento tecnológico mundial

A humanidade depara-se, constantemente, com dificuldades associadas à própria condição humana. Dentro da nossa inteira fragilidade, andamos à mercê da natureza.

A prova disso, é a mais recente estirpe coronavírus, desconhecida da comunidade científica e que, em menos de um mês, se espalhou por cerca 27 países. Em poucas semanas matou cerca de trezentas pessoas na China. Crê-se que a origem do surto provenha de um vírus transmitido de um morcego para um animal selvagem e que neste, através de uma mutação genética, ultrapassou a barreira das espécies acabando por chegar ao ser humano.

© 2019-nCoV Global Cases by Johns Hopkins CSSE

Tendo em conta que falamos de um vírus pneumónico, provoca no ser humano sintomas ligados a uma pneumonia convencional, no entanto, não sendo bacteriana, não pode ser tratada com recurso a antibióticos. O período de incubação é bastante alargado, dificultando a sua perceção. O seu combate fica restrito à vacinação ou tratamento de todos os sintomas associados, como se tem vindo a verificar na China. Os últimos dados indicam que o vírus pode ser transmitido por proximidade a outros seres humanos sem que tenha ocorrido qualquer contato e, além disso, mesmo no período de incubação, a doença pode ser transmitida a outros hospedeiros, o que indica que a sua proliferação é bastante rápida.

A problemática por detrás desta epidemia — como foi considerada pela Organização Mundial de Saúde — que na passada quinta-feira, 30 de janeiro, declarou emergência de saúde pública é, talvez, maior do que a maioria das pessoas tem estado a pensar. De realçar que esta é apenas a sexta vez que a OMS declara estado de emergência alegando saúde pública, o que poderá querer dizer alguma coisa. O problema é grave, e tanto é que o estado chinês o ocultou, numa primeira instância, dos próprios cidadãos, muito provavelmente, pelo receio dos efeitos dentro do próprio país e no contexto externo.

Que impacto tem a epidemia coronavírus na economia chinesa?

Estimam-se os problemas graves para a economia chinesa. Epidemias anteriores demonstraram os efeitos nefastos nesta economia. A síndrome respiratória aguda grave associada a uma estirpe de coronavírus (SARS) foi exemplo disso no passado, quando em janeiro de 2003, a China viu o seu consumo interno diminuir cerca de 10%. Segundo um estudo nesse ano, ocorreu uma redução de 1,1% do PIB na China Continental e, em Hong Kong, um dos principais motores desta economia asiática — no que diz respeito a exportações e produção de eletrónica de consumo — o seu PIB sofreu uma redução de 2,6%, o que numa economia com um volume de produção como a deste país, significa um grande impacto.

O combate do novo surto de coronavírus, 2019-nCoV, levou a que o governo chinês investisse o equivalente a 12,6 biliões de dólares em material médico. É importante referir que o próprio estado chinês ordenou a construção de um hospital de campanha, num período previsto de realização de 10 dias, com uma infraestrutura de 25 mil metros quadrados. Há relatos de trabalhadores que estão a operar perto de 24 horas por dia para terminar dentro do prazo. Além de todos os custos associados ao combate do novo coronavírus, somam-se as perdas de crescimento da economia chinesa, avaliadas em 62 biliões de dólares (segundo avançam alguns analistas).

Os impactos transcendem os meros custos associados a tratamentos. A bolsa de valores mobiliários, o turismo, a produção industrial são alguns dos pilares chineses que também sofrem com a ordem de quarentena decretada por Pequim. A bolsa de valores, por exemplo, tem estado a operar “a meio gás”, numa tentativa de estabilizar possíveis oscilações nas cotações — que vêem em moedas mais estáveis como o dólar americano e o iene japonês, alternativas mais atrativas. A proibição de voos para a China influencia, de forma imediata, o turismo neste país que se vê assolado por um problema cada vez maior. Hong Kong, o pilar industrial desta economia relata que inúmeras indústrias nacionais chinesas e estrangeiras estão a parar temporariamente a sua produção, mandando os seus trabalhadores para casa.

Outras empresas estrangeiras sentem os efeitos desta crise epidémica, como é o caso da Tesla que anunciou o encerramento da sua fábrica em Xangai, que se encontrava neste momento a produzir o Model 3 — de acordo com o comunicado, a empresa afirma que se irá verificar uma diminuição da produção, o que consequentemente, leva a uma diminuição da oferta. Por outro lado, a LG proibiu os seus trabalhadores de realizarem viagens à China, aconselhando todos os trabalhadores que se encontrassem neste país, a regressar o mais rapidamente possível. A Microsoft, por exemplo avançou à Forbes que aconselha “[…] os funcionários na China a trabalhar em casa”. A produção da General Motors e da Honda encontra-se parada desde o início do surto, pelo que, segundo os últimos comunicados, estes procuram saber quando voltarão a reabrir. A pouco e pouco, toda a economia chinesa, no curto-prazo, se encontra estagnada. Toda a indústria está a ressentir-se, demonstrando o verdadeiro efeito biológico de uma sociedade dependente de elevada mão-de-obra.

© 2019-nCoV, Coronavírus

Os laboratórios e investigadores chineses continuam a procurar, incessantemente, uma cura ou vacina para esta estirpe que já infetou mais de 12 mil pessoas no mundo inteiro, onde 13,97 mil são da China Continental. Alguns testes de laboratório já permitiram criar uma mutação do vírus — através do seu enfraquecimento genético — que poderá servir para criar uma vacina.

Quais os impactos na produção e desenvolvimento tecnológico mundial?

O encerramento de diversas empresas localizadas na China — onde concentram a maioria da produção e alguns polos de investigação — irá levar, a médio prazo, a impactos cada vez mais significativos com o prolongamento desta situação.

Empresas cuja concentração da produção não seja exclusivamente em território chinês, sentirão alguns dos efeitos nefastos, como é o caso da Samsung que tem produção dentro da própria Coreia do Sul, contudo, não se encontra livre de problemas, uma vez que a grande maioria das matérias-primas e outros recursos das suas delegações, responsáveis pela eletrónica de consumo, são sedeadas em território chinês. A própria Coreia do Sul apresenta mais de doze infetados por esta estirpe viral.

O Facebook alberga um conjunto de escritórios em território chinês associados à investigação de realidade virtual, bem como de outras tecnologias, pelo que em comunicado, a marca pede aos seus colaboradores para operarem a partir de casa, afim de não se prejudicarem ao nível de um possível contágio, nem afetarem o desenvolvimento de possíveis equipamentos ou tecnologias em curso.

Apesar da opção forçada de trabalho em casa para que a produção não seja interrompida, inúmeras empresas que mantêm os seus centros de produção na China, sentem uma quebra ou vêem o seu encerramento completo, pelo que os efeitos se sentirão no futuro, com a diminuição da oferta, o aumento de custos fixos (provenientes de rendas, salários, entre outros), bem como, de custos variáveis associados às matérias-primas que aumentam de valor, pela sua escassez. As principais consequências para o consumidor são a subida de preços de alguns produtos de eletrónica, de vestuário e de tecnologia, ou em última análise, ruturas de stocks em quase todo o mundo — este muito dependente da indústria chinesa.

A procurar contrariar esta dependência, Tim Cook, assegura que a Apple tem condições para compensar a perda de produção das suas fábricas chinesas, “estando a trabalhar em fontes alternativas para alguns componentes”. A produtora Foxconn, que fabrica os iPhones para a Apple na China, diz que a situação está controlada e que a sua produção não irá ser afetada.

Aguardamos novas informações vindas quer destas empresas, quer das autoridades chinesas que tentam conter a todo o custo a dispersão do vírus pelos outros continentes.

Deveremos estar preocupados com outros efeitos secundários na economia mundial? Provavelmente! Para já esperemos que Portugal não seja afetado e que este corona maléfico passe bem ao largo.

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