OPINIÃO: Escrever «.com» não custa assim tanto

A palavra alemã Zeitgeist na sua tradução para português quer dizer qualquer coisa como “Espírito dos tempos“. Depois de feita uma análise ao Google Zeitgeist Portugal, acho que o espírito português não é grande coisa.

Pelo menos no que diz respeito à tecn0logia parece que o tradicional utilizador nacional ainda tem umas coisas a aprender, no sentido de ser mais prático e de perceber o sentido funcional da novas tecnologias. O Google é um motor de busca, escrevemos lá qualquer coisa e aparecem milhões de resultados de coisas quaisquer. Mas estranha-me um pouco que palavras como Facebook, Gmail e Hotmail constem nos dez primeiros lugares das “Pesquisas em ascensão mais rápida” – e a rede social de Mark Zuckerberg foi mesmo a segunda palavra com maior crescimento no Google pelas mãos dos portugueses.

Isto quer dizer que em vez de escreverem os endereços directamente nas barras dos browsers destinadas a essa função, ou de guardarem a página nos marcadores rápidos, ou de usarem um atalho (por exemplo: Hotmail + Ctrl + Enter = hotmail.com), os nossos preferem abrir uma página, digitar Google, no motor de busca escrever o nome do serviço para então aceder a ele (isto na melhor das perspectivas, pois deve haver quem ainda se perca nos resultados dado pelo algorítmo da empresa de Mountain View). Não era mais simples substituir todo este processo moroso e sem sentido digitando apenas mais quatro caracteres, se tanto, (exemplo.pt!) directamente na barra de endereços?

Termos mais pesquisados no Google

Pelo menos esta situação revela uma coisa boa: os portugueses usam e abusam do motor de busca. Mas a falta de conhecimento digital parece ser um bug inerente ao povo luso. Ou é simples comodismo. A coisa chega a ser tão abstracta que em sexto lugar na categoria das “Principais pesquisas” aparece a palavra Google! As pessoas pesquisam o Google no Google: o leitor tem todo o direito de se sentir confuso. Os três primeiros lugares desta categoria são ocupados pelo Facebook (rede social), Youtube (rede social de vídeos) e Hotmail (serviço de mail) aos quais bastava juntar .com para se ir directo ao assunto que levou os utilizadores a teclar aquelas palavras. Pelo menos já sabemos o que andam os portugueses a fazer na rede. Nas principais pesquisas as nove primeiras palavras do top10 estão relacionadas com tecnologia e a palavra meteorologia fecha a contagem – salve-nos o tempo em alturas económicas difíceis.

Também ainda não percebi como o ténis é a modalidade mais procurada na categoria desporto.

Mas não somos só nós os maus da fita: na categoria “Pessoas em ascensão mais rápida” encontramos o nome de Sónia Frazao – falta saber se até nisto a culpa é nossa que não sabemos o nome dos nossos actores ou se foi mesmo alguém na Google que meteu água. Não percebo é como a gigante das buscas também continua a incluir termos como Facebook ou Youtube nestas contagens. A principal ideia da empresa norte-americana seria traçar o perfil do utilizador de determinado país e até mesmo fazer um resumo do que mais relevante se passou nessa terra, mas não vejo isso a acontecer em Portugal. Como é que palavras como «troika, FMI, crise, crise económica, crise euro, Merkel» não constam na lista dos temas mais pesquisados pelos portugueses?  Será que andei assim tão desatento, ou caso salvo me falhe a memória, o ano de 2011 em Portugal a pouco mais se resume?

Nem todos fazem parte desta lista de pessoas não práticas e nem todos têm estes hábitos mais demorados. Mas se fazem parte da lista Google Zeitgeist 2011 então é porque não são coisas que aconteçam pontualmente, mas sim em quantidades industriais. E à luz dos olhos dos outros, todos temos que assumir a nossa responsabilidade portuguesa (os outros países também têm os seus quês de interrogação, descansem, não estamos sozinhos).

Por fim falta-me falar da estranheza que sinto ao não ver em nenhuma das listas palavras relacionadas com o universo da pornografia ou mesmo a palavra porno. Sempre foi uma das maiores indústrias da Internet, sempre foi e será um dos tópicos mais pesquisados por homens e mulheres de todo o mundo, mas nada aponta nesse sentido. Suspeito que a Google terá feito uma censura a esse tipo de palavras e termos.

Bagas de Goji, Espanhol Breton e Benefica (mais um erro sra. Google!) dizem-lhe alguma coisa? Fique a saber o que são e em que categoria estão incluídas as palavras mais pesquisadas em Portugal em 2011. Deixe depois a sua opinião enquanto utilizador que faz pesquisas.

2 COMENTÁRIOS

  1. Facebook, Google +, Gmail ou mesmo Google são das palavras mais procuradas talvez por serem alvo de uma ratoeira do google chrome. Se escrevermos na barra de endereços, por exemplo, “facebool.com” ao invés de facebook.com abre-se uma página do google onde a pesquisa pretendida era facebook, e não sabemos se estes erros contam ou não para a estatística. Acho muito improvável que as pessoas se dêem ao trabalho de ir ao google pesquisar pelos ditos sites que é só acrescentar o “.com”, mas os números estão aí para provar.
    Bom texto, bom trabalho 🙂

  2. Também tem que se ter em conta que muitos dos browsers actuais têm o google.pt como página de arranque: sendo assim a caixa de pesquisa fica logo ali à mão depois de iniciar o browser, e é muito mais fácil escrever “facebook” na caixa de pesquisa do que escrever “www.facebook.com” na barra de endereço. Não é necessário abrir o Google de propósito para digitar “facebook”, como o autor do artigo refere.

    Em relação a procurar “google” no google, talvez seja por causa do lançamento do Google+. Não sei.

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