As sanções impostas pelos Estados Unidos à China têm gerado um impacto significativo em várias empresas tecnológicas de renome, incluindo ASML, Intel, AMD e NVIDIA. A procura por unidades de processamento gráfico (GPU) para inteligência artificial (IA) é tão elevada que a NVIDIA continua a crescer a um ritmo impressionante. No entanto, a empresa enfrenta restrições severas, pois não pode vender muitas das suas GPUs aos clientes chineses. Curiosamente, estas sanções não afetam apenas os negócios da NVIDIA na China, mas também limitam as suas operações noutras regiões do mundo.
A administração norte-americana suspeita há vários meses que algumas empresas e institutos de investigação chineses obtêm os chips de IA de que necessitam no Médio Oriente. As sanções dos EUA contemplam esta possibilidade, limitando também as operações comerciais que a NVIDIA e outras empresas norte-americanas podem realizar nesta região. Apesar destas restrições, a NVIDIA conseguiu um acordo significativo: vai implementar o seu hardware de IA nos centros de dados do grupo de telecomunicações catariano Ooredoo em seis países, alguns deles no Médio Oriente.
Aziz Aluthman Fakhroo, diretor-geral da Ooredoo, confirmou que a NVIDIA vai fornecer a sua infraestrutura de IA para os centros de dados da empresa em seis países: Catar, Argélia, Tunísia, Omã, Kuwait e Maldivas. Este é um marco importante para a NVIDIA, pois é a primeira vez que a empresa se prepara para implementar uma infraestrutura tão ambiciosa numa região sujeita às sanções dos EUA. Contudo, os países mais problemáticos devido à sua possível ligação com o governo chinês são Catar, Omã e Kuwait.
Apesar do acordo, nem a NVIDIA nem a Ooredoo revelaram ainda qual será o hardware específico a ser instalado nos novos centros de dados. É razoável assumir que se tratará das GPUs mais avançadas da NVIDIA, desde que estejam disponíveis. No entanto, as sanções dos EUA impedem a venda dos chips de IA mais potentes no Médio Oriente, levantando dúvidas sobre se a administração norte-americana fez uma exceção para a Ooredoo.
Para que o acordo avance, a NVIDIA terá de obter uma licença de exportação dos EUA. A empresa confia que conseguirá esta licença e compromete-se a garantir que todas as suas GPUs chegarão aos centros de dados da Ooredoo. Além disso, a Ooredoo terá de assegurar que as empresas chinesas não terão acesso aos seus serviços de IA na nuvem. Este projeto da NVIDIA promete ser um tema de discussão nos próximos meses.
Na minha opinião, a situação ilustra a interdependência e a complexidade das relações comerciais globais na era da tecnologia avançada. As sanções, embora destinadas a limitar o acesso da China a tecnologias críticas, acabam por afetar empresas e mercados em todo o mundo. A capacidade da NVIDIA de navegar estas águas turbulentas e continuar a expandir-se é um testemunho da sua resiliência e adaptabilidade. No entanto, a eficácia a longo prazo destas sanções e as suas implicações para a inovação tecnológica global permanecem questões em aberto.
Fonte: Reuters