A estratosfera da Terra, lar da nossa frágil camada de ozono, enfrenta uma nova ameaça: metais vaporizados provenientes de lançamentos de foguetes e lixo espacial. Este é um problema adicional aos já existentes.
Um grupo de cientistas analisou as partículas detectadas pelo avião WB-57 da NASA em voos de grande altitude sobre o Alasca e o Centro-Oeste dos Estados Unidos. O estudo revelou a acumulação de certos metais nas partículas de ácido sulfúrico da estratosfera. Estes metais não são encontrados naturalmente a estas altitudes.
A investigação, apoiada pela NASA e pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos e publicada por pesquisadores da Universidade Purdue, identificou mais de 20 elementos distintos, incluindo lítio, alumínio, cobre e outros metais mais exóticos.
Estes metais são utilizados em foguetes e satélites, e foram detetados em proporções que correspondem a ligas aeroespaciais específicas. Segundo os cientistas, são metais vaporizados provenientes de detritos espaciais que se queimam na atmosfera, como os foguetes gastos que regressam da órbita.
A vaporização do lixo espacial na sua reentrada na atmosfera não é um conceito novo, mas a sua crescente contribuição para a poluição da estratosfera na forma de metais vaporizados é uma preocupação recente. Os seus níveis já ultrapassam as fontes naturais de metal, como o pó dos meteoros.
A estratosfera é a parte da atmosfera onde se encontra a camada de ozono, que nos protege da radiação ultravioleta do Sol. A camada de ozono tem como escudo protetor as partículas de ácido sulfúrico da estratosfera. Os metais estão a acumular-se nestas partículas de ácido sulfúrico.
Ainda não se sabe quais as implicações a longo prazo destes metais. Qualquer desequilíbrio na química da camada de ozono, que atua como escudo contra os raios UVB, poderia ter repercussões para a vida na Terra. Até agora, a preocupação era que os foguetes e satélites que reentram na atmosfera se desintegrassem sem cair sobre nós. Não se tinha pensado nos efeitos da sua vaporização.
Apesar de apenas 10% das partículas de ácido sulfúrico amostradas conterem estes metais, as projeções prevêem uma contaminação de 50% em algumas décadas devido ao aumento exponencial dos lançamentos espaciais. As Mega constelações de satélites, como a Starlink da SpaceX ou o Project Kuiper da Amazon, são a principal preocupação dos cientistas.
Na minha opinião, este estudo sublinha a necessidade urgente de uma gestão mais responsável do espaço e dos detritos espaciais. A exploração espacial não deve ser feita à custa do nosso planeta e da nossa saúde. É essencial que as agências espaciais e as empresas privadas tomem medidas para minimizar o impacto ambiental dos seus lançamentos e para gerir de forma eficaz o lixo espacial.
Fonte: Scientificamerican