Jornais portugueses apostam na tecnologia

O jornalismo português está a dar uma resposta tecnológica às necessidades dos consumidores cada vez mais ávidos de novas formas de consumir informação.

Há muito que o jornalismo tem vindo a perder algum do seu fulgor, em especial a imprensa. Enquanto a migração para o meio online não vai dando os frutos pretendidos, outras alternativas são adoptadas pelos órgãos de comunicação social. A integração com as redes sociais está a ser um passo decisivo no processo de arranjar mais leitores, nem que sejam apenas «e-leitores». Outra solução que começa a ser explorada passa pela criação de aplicações para os dispositivos que acompanham as pessoas nos momentos em que estas não estão agarradas aos computadores – os jornais portugueses estão a abrir os seus horizontes e, quem sabe, estão a pisar os primeiros ramos verdes de uma árvore que pode ter muitos frutos para dar.

A grande aposta passa pelos tablets e pelo seu líder, o omnipresente iPad. As tabletes electrónicas pelas dimensões generosas dos seus ecrãs e pela navegação intuitiva através do toque, são os dispositivos que neste momento concentram as atenções dos jornais portugueses. A semana que passou foi especialmente movimentada em torno dos tablets com o lançamento de três aplicações para o dispositivo móvel da Apple da parte de três jornais diferentes.

O Correio da Manhã lançou uma aplicação gratuita para iPad que permite aos utilizadores terem acesso ao jornal na sua versão completa no tablet e primeiro do que em muitas bancas de jornais. A partir das 6 horas da manhã (em Portugal Continental) já pode fazer o download da edição diária por 79 cêntimos à semana ou 1,59 euros no fim de semana, com suplementos incluídos. O jornal digital foi desenhado para ser mais fácil e atractivo de ler, sendo possível fazer zoom nas notícias e fotografias apenas com um toque, ou «desfolhando» o jornal numa barra que aparece na parte inferior do ecrã.

A aplicação lançada pelo diário do grupo Cofina permite ainda aceder a uma versão do site do Correio da Manhã optimizada para tablets. Uma das características principais da aplicação é o CM Total que permite escolher as notícias que pretende ler através de um carrossel de fotos, que quando pressionadas, abrem a respectiva página da notícia. A app do CM permite ainda o acesso a foto-galerias e a uma biblioteca de vídeos. Pode ainda aceder a notícias geolocalizadas através do separador Regional, que mostra ao utilizador o mapa de Portugal e permite escolher as notícias por distritos preferidos.

Enquanto o Correio da Manhã incorpora os suplementos na mesma aplicação, o jornal Público prefere manter cada macaco no seu galho e lançou uma app própria para o Ípsilon, a publicação cultural do diário de referência em Portugal. A experiência de leitura do Ípsilon no tablet da Apple promete ser mais integrada e multimédia, onde os artigos vêm acompanhados de foto-galerias, vídeo e áudio. “O ípsilon na aplicação iPad é uma experiência mais intensa. Pelo menos, queremos que o seja. Como se fosse uma vocação que faltava cumprir a este suplemento” afirmou Vasco Câmara, editor do ípsilon ao Público.

A aplicação pretende trazer o consumo de cultura a um novo patamar, fazendo uma ligação entre os artigos e os conteúdos falados: a título de exemplo, ouvir o novo cd de uma banda enquanto lê a crítica literária do mesmo. O download da aplicação custa 79 cêntimos semanais, 6,99 euros trimestrais (12 edições), 13,99 euros por semestre (26 edições) ou 20,99 euros pela assinatura anual.

Como não é só de diários que se fazem os jornais portugueses, o semanário Sol lançou também uma aplicação para iPad. Segundo a descrição do próprio jornal “aceda ao melhor jornalismo através de uma aplicação inovadora, que lhe apresenta os mesmos conteúdos numa perspectiva horizontal ou vertical”. A descrição foi tudo o que o semanário Sol disponibilizou, mas as opiniões dos utilizadores que já descarregaram a aplicação do iTunes é positiva apesar de alguns referirem a presença de bugs ou a navegação pouco intuitiva. As primeiras 6 edições são grátis depois de feito o download da app.

Quem já é maduro no universo dos tablets é o Diário de Notícias que tem visto a sua aplicação para iPad ser premiada em Portugal e no estrangeiro. O novo ponto de interesse do jornal do grupo Controlinveste são as televisões Samsung SmartTV, televisores com ligação à Internet. Enquanto o seu programa favorito estiver em intervalo, aproveite para dar uma espreitadela às notícias de última hora ou até ver a capa do dia, sem que para isso tenha que mexer noutro dispositivo, além da sua tv claro. A interface é “elegante e fácil de usar” e controlada através do comando. A aplicação pode ser acedida na loja virtual Samsung Apps disponível nos aparelhos compatíveis.

Jornal de Notícias, O Jogo e TSF – rádio jornal, os outros órgãos de comunicação do grupo Controlinveste, têm à semelhança do DN uma aplicação disponível para as SmartTV’s. Como explica Nuno Ribeiro, director de negócios multimédia, ao Diário de Notícias “chegar aos televisores é mais um passo evolutivo e natural para o DN, JN, O Jogo e TSF”. A parceria feita com a Samsung representa para a fabricante sul coreana a aproximação, a antecipação e a satisfação das necessidades dos consumidores, segundo Filipe Carvalheiro, responsável pela divisão Samsung Electrónica Portuguesa.

Se os jornais portugueses demoraram a tornar-se atractivos nas suas versões online, a experiência negativa parece ter despertado os media portugueses, pelo menos alguns deles, para a necessidade que há em saber acompanhar as tendências tecnológicas e as opções dos consumidores. E quando muitos pensam que os jornais de imprensa estão arrumados para canto, a realidade mostra esses mesmos jornais a intrometerem-se no monopólio de outros tipos de jornalismo, como é exemplo o mercado das televisões. Talvez daqui a alguns meses, as previsões de morte da imprensa, como aquela que Bill Gates fez para 2050, assumam outros contornos e outras datas mais tardias.

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