Os Beatles, a banda icónica que marcou gerações, já se dissolveu há décadas e, infelizmente, apenas dois dos seus membros continuam vivos. Contudo, no próximo dia 2 de Novembro, foi anunciado um novo e último single, intitulado ‘Now and then’. A particularidade deste lançamento reside no facto de a melodia ter sido criada com um software de áudio com inteligência artificial que capturou a voz de John Lennon.
A utilização da inteligência artificial na música tem gerado polémicas, tal como aconteceu com a canção viral de Drake e The Weeknd, que na realidade nunca existiu. A controvérsia não está tanto na sua utilização, mas sim no consentimento. Neste caso, os Beatles não só estavam cientes desta prática, como participaram activamente.
Para contextualizar, John Lennon escreveu e gravou ao piano a demo de ‘Now and Then’ nos anos 70, antes do seu assassinato. Nos anos 90, Yoko Ono entregou esta peça a McCartney, Starr e George Harrison. No entanto, ficou arquivada à espera de uma tecnologia que permitisse separar a voz do artista do piano, tornando-a utilizável para a engenharia de som.
A solução surgiu com o software desenvolvido pelo director Peter Jackson e a sua produtora WingNut Films para o documentário ‘The Beatles: Get Back’. Este software, baseado em aprendizagem de áudio automático (MAL), foi capaz de extrair a voz de Lennon. Como resultado, os Beatles voltaram aos estúdios uma última vez.
A tecnologia MAL permite misturar o áudio do documentário original de Get Back. Assim, é possível isolar e misturar novamente o áudio instrumental e o vocal, inclusive com diálogos. Após aplicar este MAL à demo, a equipa de Jackson conseguiu uma qualidade de som suficientemente boa para regravar a canção com o resto da banda.
A partir deste ponto, Starr e McCartney incorporaram as suas contribuições e vocais, bem como uma gravação de guitarra de George Harrison, falecido em 2001. O resultado poderá ser ouvido na próxima semana.
Embora esta prática possa gerar controvérsia, é inegável que abra novas possibilidades para a indústria musical. Na minha opinião, desde que haja consentimento e respeito pela obra original, a utilização da inteligência artificial na música pode ser uma ferramenta valiosa para preservar e reinventar o legado de artistas icónicos.
Fonte: Thebeatles