Facebook marcou mais de 700,000 menores como “interessados em jogo a dinheiro”

Uma investigação levada a cargo pelo jornal The Guardian e pela Danish Broadcasting Corporation apresentou no passado dia 9 de Outubro de 2019 evidências inequívocas de que o Facebook marcou aproximadamente 740,000 utilizadores com menos de 18 anos como interessados em ‘jogo a dinheiro’ (gambling). Ao identificar estes menores como interessados em ‘gambling’, o Facebook pode ter exposto centenas de milhares de jovens a anúncios perigosos e não-apropriados. Esta é mais uma das várias acusações que têm sido feitas ao algoritmo de publicidade e sistema de classificação pessoal da popular rede social liderada por Mark Zuckerberg.

Estes interesses são associados aos perfis dos utilizadores de forma automática, baseando-se na actividade conduzida por esses mesmos utilizadores; os dados recolhidos são de seguida aplicados para realizar uma discriminação – também gerada automaticamente – em relação ao tipo de anúncios que serão apresentados a esse utilizador. O que significa que uma criança que demonstre um comportamento que o algoritmo possa reconhecer como associado a fãs de jogo a dinheiro pode ser desse modo exposta a anúncios relacionados com casinos, poker online, ou apostas desportivas – um autêntico efeito de bola de neve!

Álcool também faz parte dos “interesses” dos menores

De acordo com o The Guardian, para além de 740,000 menores interessados em ‘gambling’, o Facebook catalogou aproximadamente 940,000 utilizadores com menos de 18 anos como interessados em bebidas alcoólicas. Quando confrontados com estes dados, os executivos do Facebook afirmaram que a companhia fazia tudo o que podia para evitar que menores tivessem acesso a conteúdos apropriados; segundo o Facebook, o algoritmo de anúncios do site está desenhado para levar o melhor conteúdo possível às pessoas – no sentido de o ‘mais apropriado’ – e a companhia esforça-se por educar os anunciantes de modo a que estes possam valorizar os seus investimentos promocionais. Mas o que acontece na prática?

Ninguém sabe ao certo como o algoritmo do Facebook funciona

O algoritmo do Facebook é uma das grandes questões do mundo da tecnologia na actualidade, pelo menos do ponto de vista de todos aqueles que não trabalham no meio. É natural que o cidadão comum não perceba ao certo por que tem ou não acesso a determinado conteúdo; no entanto, o Facebook nunca se esforçou por clarificar os detalhes precisos que envolvem o seu sistema, nem por explicar da melhor maneira o seu funcionamento concreto. Em relação à investigação que o The Guardian realizou em associação com a Danish Broadcasting Company, um porta-voz do Facebook declarou que marcar um menor como interessado em ‘gambling’ podia ser útil para o mesmo no sentido em que o algoritmo estaria preparado para fornecer o seu feed com anúncios associados, por exemplo, ao vício do jogo e a como combatê-lo. Contudo, não existem bases teóricas conhecidas que sustentem este argumento nem que ajudem a explicar de que maneira os anúncios ofensivos seriam filtrados no processo.

O povo e as grandes empresas tecnológicas

Numa era em que as redes sociais e os sites mais populares do mundo não só fazem parte da nossa vida como nos acompanham a todo o instante, é cada vez mais frequente assistir a polémicas directamente relacionadas com comportamentos tidos como imorais. No entanto, ao contrário do que desde sempre acontece, estas polémicas não são instauradas com base em erros humanos – como corrupção ou negligência – mas antes por defeitos de construção de software.

Um exemplo disto é um recente estudo levado a cabo pelo University of Southern California, que concluiu que o algoritmo de anúncios do Facebook discrimina os seus utilizadores com base na raça, mesmo quando tem instruções específicas para não o fazer.

Os anunciantes também não gostam do algoritmo do Facebook

Nem mesmo os anunciantes parecem satisfeitos com o algoritmo do Facebook. Em 2017, o funcionamento do sistema de anúncios do site mudou radicalmente, prometendo uma aproximação maior a conteúdos locais e um distanciamento dos anúncios externos. Ou seja, os utilizadores estariam mais em contacto com os seus amigos, familiares, e notícias próximas, do que com anúncios pagos por empresas, pequenos negócios, ou artistas. Isto provocou uma pequena crise entre aqueles que dependiam dos anúncios no Facebook para sobreviver, que vão inundando a Internet com guias e planos comerciais para atacar estrategicamente o novo algoritmo do site. Aparentemente, o supracitado apoio oferecido pelo Facebook aos anunciantes não se tem revelado eficaz.

Não é apenas o Facebook

No seio deste tipo de polémicas encontra-se também o YouTube. Mais recentemente, o popular site de partilha de vídeos foi acusado pela comunidade LGBTQ de ‘desmonetizar’ (remover direitos de pagamento por views) especificamente conteúdos relacionados com o estilo de vida e cultura queer. Aparentemente, o algoritmo do YouTube demonstra algumas dificuldades em lidar com palavras que fazem parte do vernáculo comum de todos os cidadãos, e em especial do da comunidade homossexual, como ‘gay’ ou ‘lésbica’ (lesbian). Mais uma vez a grande questão se impõe: serão estes algoritmos defeituosos, ou simplesmente desenhados de forma maliciosa?

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