Grande parte das atividades que desempenhamos no mundo real estão digitalizadas hoje. Se ainda não estão, alguém provavelmente pensa numa maneira de fazê-lo. Não é tão complicado entender por que isso ocorre: a comunicação digital entre partes é veloz e eficaz, e o mundo virtual é livre de algumas restrições relevantes que a realidade física e pessoal impõe.
Porém, se obstáculos de distância e tempo são reduzidos ou até mesmo eliminados no mundo virtual, perigos relevantes são abertos nos campos de segurança e de privacidade no mundo virtual.
De fato, muitos deles são tão complexos a ponto de ainda não termos chegado a soluções razoáveis. É o caso da vulnerabilidade apresentada pela pegada digital.
O que é a pegada digital
Nossas ações no mundo virtual dependem da interação entre máquinas e da troca de informações. A cada movimento feito ou arquivo trocado entre pessoas, um rastro de informação é deixado para trás.
Esse rastro pode assumir diversas formas. Genericamente, é chamado de pegada digital. Assim como uma pegada na floresta, pode ser usada com uma finalidade construtiva, ela também pode servir para que predadores farejem pessoas comuns e lhes provoquem males.
No mundo virtual, os predadores em questão são cibercriminosos. A atividade lesiva deles depende de encontrar informações públicas de pessoas no mundo virtual.
Se as informações estiverem indisponíveis publicamente, eles podem tentar invasões de sistemas para obter dados privados, mas elas são mais trabalhosas e custosas a um criminoso.
Por isso, proteger ou reduzir a quantidade de dados que deixamos para trás publicamente (novamente, a pegada digital) já pode ser um bom começo em termos de segurança virtual.
Conheça a seguir 4 maneiras simples aumentar o controle sobre sua pegada digital. Afinal, uma bela casa de portas abertas numa rua vazia é muito mais convidativa para ação criminosa do que uma residência com muros, câmeras de vigilância e segurança ao redor.
Dica 1: Providenciar uma VPN
Essa pequena sigla ganhou popularidade no Brasil nos últimos anos, mas a maioria das pessoas ainda está longe de saber o que é e para que serve uma VPN. Esse tipo de serviço foi criado para proporcionar mais privacidade e segurança navegando na internet.
A sigla significa, em inglês, rede privada virtual. Uma VPN codifica as comunicações virtuais de uma pessoa num computador ou celular. Isso pode incluir informações de acesso a sites (histórico, compras, informações bancárias) e interações privadas com outras pessoas na internet, por exemplo.
A qualidade de um serviço de VPN depende da confiança de seu provedor, pois a criptografia é feita pelo serviço redirecionando as informações que passariam por um servidor normal para o servidor privado dessa empresa.
VPNs permitem esconder a localização e a identidade de quem navega dos cibercriminosos xeretas e são especialmente úteis em redes públicas bastante visadas, como o Wi-Fi de um restaurante ou ambiente de alta rotatividade.
Dica 2: Apagar contas inativas de serviços
Pessoas nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Os dados, por outro lado, são eternos, enquanto os servidores durarem. Por isso, é recomendável fazer um balanço periódico de senhas e contas de serviços em que temos contas para modificar ou apagar dados.
O crime virtual é um negócio rentável e organizado. Milhares de “profissionais” desse ramo ganham dinheiro vendendo bases de dados de incontáveis serviços virtuais todos os dias. Se tivermos o azar de ter dados pessoais nos registros de um serviço atingido, eles podem ser cruzados por criminosos e podemos nos tornar vítimas.
Os vazamentos da base de dados dos Neopets são um grande exemplo disso. Neopets é um jogo virtual lançado em 1999, uma espécie de mistura entre bichinho virtual e Pokémon. Em mais de 20 anos de existência, mais de uma geração já desfrutou dessa diversão, enjoou dela e amadureceu. Muita gente não apagou sua conta: simplesmente a abandonou, como brinquedos velhos no quartinho de casa.
Em 2022, nomes, e-mails, gêneros, datas de nascimento e senhas de usuários dos Neopets vazaram para hackers – um de vários vazamentos em diferentes anos. Quem tinha uma senha e um e-mail cadastrados no Neopets e que servisse para outro serviço pode ter sido alvo de fraudes e invasões virtuais – sem nem entender de onde sequer veio o ataque!
Dica 3: Controlar os compartilhamentos
Quanto mais de nós mesmos colocamos nas redes sociais, mais retorno elas prometem. Elas são desenhadas para estimular interações e compartilhamentos, mas existe um limite saudável para isso.
É possível revelar muito de nós mesmos numa rede social sem sequer emitir uma opinião ou compartilhar um emoji:
- check-ins em espaços públicos
- compartilhamento de localização
- curtidas em serviços financeiros ou de saúde de que somos clientes
Esses são alguns exemplos comuns de sinais de cibercriminosos que buscam para construir um perfil digital de suas vítimas. Compartilhar dados sensíveis, como e-mail ou telefone pode facilitar ainda mais a vida de meliantes.
Quanto mais nosso comportamento numa rede social for um espelho detalhado de nossa vida física, maior é a vulnerabilidade. Nossos atos cotidianos do mundo físico são lembrados apenas pelas pessoas ao redor, do trabalho, escola ou intimidade, mas ficam registradas na pegada digital nas redes sociais.
Dica 4: Evite os logins sociais
É muito difícil criar senhas seguras e gravá-las na memória. Por isso, muita gente usa apenas os logins sociais para se cadastrar em serviços virtuais: acesso usando as credenciais do Facebook, Google ou Twitter.
É uma escolha prática, mas não segura. Os dados mantidos no serviço usado para o login podem ser compartilhados com terceiros. Assim, deixam de estar somente no servidor desses serviços para irem parar sob controle de outra empresa, que os usuários talvez sequer conheçam.
Criar um login e uma senha para cada acesso virtual de um serviço pode ser chato. Porém, o trabalho adicional de segundos de anotar as credenciais num papel para futura referência é melhor do que sujeitar a pegada digital a riscos desconhecidos.