Análise de Humankind — Aprender para vencer!

Humankind — novo jogo da Amplitude Studios — é uma proposta enquadrada no estilo de jogo de estratégia (por turnos) como um jogo 4X (eXplorar, eXpandir, eXtrair, eXterminar) cujo objetivo é conduzir a sua civilização à vitória. A sua história pode ser escrita pelas suas mãos, abdicando de um rumo pré-definido, algo semelhante a Civilization, a famosa série da 2K Games que unificou e transformou toda uma comunidade ligada aos jogos de estratégia.

Amplitude Studios consegue reinventar-se ao criar uma experiência que tira partido de outros títulos desenvolvidos pelo estúdio e distribuídos pela Sega. Ao contrário de jogos como Endless Legend — desenvolvido pela equipa — sendo ambientado num cenário de ficção científica, Humankind adota uma postura mais sóbria e conectada com a História, mesmo que esta possa ser alternativa ou distorcida no tempo e no espaço. Este jogo consegue aproveitar o que a concorrência trouxe de relevante, mas, em simultâneo, incluir novas ideias e conceitos.

Em Civilization, a progressão civilizacional consegue ser mais explícita, no entanto, em Humankind, o jogador é confrontado com todo um sistema diferente e bem menos focado nas categorias principais do concorrente. E sim, digo concorrente, pois Civilization continua a ser um concorrente bastante forte, mas fica difícil elevar este título da Amplitude ao nível já atingido de Civ.

Estratégia — é aprender para reinar!

Em concreto, o propósito de Humankind continua a ter o mesmo propósito de Civilization, todavia aqui, a humanidade depende das suas decisões (de algumas formas) erráticas para fazer traços de perfil compatíveis com o seu estilo de jogo. A inteligência artificial ajuda nesse requisito, no entanto, parte de si, a aceitação ou não de diferentes abordagens a uma nova realidade (in-game).

Percorrendo sete períodos diferentes da história — o Neolítico, a Antiguidade, a (era) Clássico, o Moderno, o Industrial e, finamente, o Contemporâneo — terá que encontrar a fórmula para o seu sucesso, se é que existe uma. Ao contrário de Civ., Humankind procura fazer da cultura, o elemento-chave para a progressão e evolução da sociedade, não fosse o nome do jogo “Humanidade”, tomando a premissa da cultura para chegar à conclusão que a evolução de uma sociedade implica um nível de cultura a que os cidadãos ficam pressionados a garantir.

Independentemente da experiência, o conceito base mantém-se: conseguir um nível populacional elevado, uma economia próspera (que sustente as atividades), uma capacidade ofensiva considerável (armamento militar), complexos industriais e avanços científicos significativos. O que se destaca em tudo isto é o facto de alguns destes acontecimentos estar sincronizados para aparecer ao longo do jogo (para pesquisa) ou até quando acabam por ser pesquisados por outros.

Logo de início, o jogo apresenta algumas semelhanças — em estilo de jogo — em relação a outros títulos. Escolhe o seu avatar, com a particularidade de poder escolher as suas características e personalidade. É curioso ver que o protótipo inicial de cada avatar dispõe de onze opções de comportamento, não obstante, a escolha do avatar não irá decidir o equilíbrio da personagem, pelo que poderá sempre alterar esse comportamento a seu belo prazer.

Este jogo — Humankind — permite que derroque os inimigos, no entanto, não os conseguirá eliminar, pois, é-lhes permitido que se reconstruam e que retornem ao jogo futuramente — algo que, em boa verdade, aconteceu a longo da História. Ainda que não possa dizimar determinada população (in-game), poderá sempre aproveitar-se do território para um melhor planeamento geoestratégico da sua civilização com recursos úteis à evolução.

Seja qual for a sua abordagem ou estratégia, procure definir a cultura da sua civilização antecipadamente para evitar que outras nações “bloqueiem” uma possível escolha mais favorável para si — visto que são únicas em cada civilização. O jogador ou personagem que tiver mais fama (no final de cada partida), vence. Esta fama é conquista através das suas ações em jogo, entre decisões, posições estratégicas ou, como mencionado, pela cultura adotada. A escolha da cultura deve refletir o seu estilo de jogo estratégico, bem como, as potencialidades descobertas na Era Neolítica.

Ambientação

O Humankind apresenta ideias bastante interessantes e o ambiente com que somos confrontados é algo digno de se ver num jogo de estratégia, ainda para mais quando nos trouxe alguns vislumbres daquilo que tem sido a série Civilization, no entanto, ainda com alguns elementos que julgamos serem inferiores ao citado. Aliás, a variedade de biomas e localizações é, verdadeiramente, incrível chegando a criar todo um contexto para determinada região.

Para um jogador que tenha alguma ligação a Civ., a habituação à interface pode até não ser muito complicada, mas, no que diz respeito ao funcionamento de Humankind, poderá sentir algumas diferenças que lhe irão causar estranheza. Digo por experiência própria que não foi fácil logo de início perceber alguns dos objetivos estratégicos do jogo, não porque não estivesse bem caracterizado, mas, porque procurava determinadas funções ou opções que, das duas uma, ou não estava no sítio correto ou tinham outra designação (ou propósito).

Visto que não pode existir um vencedor na história de Humankind, também a confrontação com a realidade ao implementar um sistema de “Fama” foi muito bem concretizado na medida em que permite que se possa orgulhar de estar entre as civilizações mais apreciadas (se assim o conseguir) pelas suas ações ao longo do jogo no desenvolvimento das suas capacidades intelectuais e estratégicas. Consegue-se de tudo um pouco neste novo jogo de estratégia.

O clima altera e adapta-se em cada local, o que não deixa de ser fantástico e um elemento que não é frequentemente tido em conta. Além disso, a Amplitude Studios aproveitou para incluir até um sistema alterações climáticas para se adaptar ao jogo acompanhando uma realidade que, infelizmente, tem-se tornado mais dramática em todo o mundo. Humankind não quis ficar de fora, pelo que, resolveu recriar mecânicas semelhantes para incluir no seu jogo de estratégia.

Jogabilidade

Este jogo tem uma abordagem idêntica a Civilization no âmbito dos títulos de estratégia por turnos. Humankind não pode ser falado sem se mencionar os seus concorrentes mais afamados, pelo que, a luta entre nações é interessante, mas não tanto como gerir conflitos ou relações diplomáticas — Humankind eleva a outro nível — quando comparado com a simplicidade de Civ. Porém, confesso que fiquei um pouco desiludido pela forma pouco objetiva com que lidamos com assentamentos ou cidades — a gestão da cidade e da própria economia do jogo — para um iniciante deste jogo, isto pode significar o “amar” ou “odiar” jogar Humankind, pois é fácil sentirmo-nos perdidos.

É verdade que a tradução do jogo está exemplarmente bem-feita, permitindo compreender os termos mais estranhos, em inglês, na língua materna (em português, neste caso). A Amplitude Studios desenvolveu o jogo, mas, a Sega, pela sua cultura global permitiu traduzir todo o jogo nas mais diversas línguas, chegando mesmo a traduzir os vídeos (tutoriais) explicativos. Isto contribuí em mais de metade do possível sucesso que este jogo tenha entre a comunidade.

Dominar este sistema implementado pela Amplitude Studios em Humankind pode parecer complicado, no entanto, com algumas horas de jogo e atenção aos detalhes, facilmente irá inteirar-se do funcionamento das rondas (ou turnos). Este título 4X permite que analise cuidadosamente cada passo para que nunca seja em falso. Explorar novos territórios pode ser bastante gratificante, pois a cada nova região, novos detalhes, climas e biomas diferentes.

O expansionismo pode ser interessante nesta categoria de jogo, especialmente, se estiver preparado para algumas batalhas bastante cativantes. Enquanto em Civilization, as batalhas ocorrem apenas entre nações ou povos bárbaros (ou renegados), em Humankind também pode lutar contra animais selvagens com os quais se vai deparando à medida que entra em novos territórios. Em batalha, Humankind adota um estilo diferente de abordagem ao inimigo. A aproximação pode ser em grupo, no entanto, na hora de atacar, existe uma desmultiplicação das várias unidades para efetuar ataques por turno.

Qualidade gráfica

Inicialmente, tinha tido a oportunidade de experimentar Humankind num portátil, esperando que conseguisse lidar com o impacto gráfico e preformativo deste jogo, tendo chegado a mostrar alguma preocupação pelo desempenho, no entanto, independentemente das primeiras impressões, apercebi-me que facilmente controlei a falta de desempenho de modo a oferecer com menor detalhe uma performance bastante aceitável.

Mais tarde, em um PC, consegui extrair bastante mais detalhe e usufruir da real qualidade do jogo. Civilization mostrava uma abordagem mais abonecada dos personagens ou elementos de jogo. Humankind resolveu apostar em texturas bastante mais detalhes, mas de uma forma idêntica aquilo que Civ. tem feito, com técnicas de ampliação para maior detalhe. Entre momentos de jogabilidade, temos acesso a vídeos com algum detalhe que se parecem mais com cut-scenes do que com tutoriais, acrescentando mais imersividade.

Este modelo de jogo de estratégia exige, essencialmente, um poder de cálculo bastante alargado, com forte necessidade de RAM para processar todas as civilizações a cada nova ronda. Contudo, ao contrário de Civ., Humankind exige um maior esforço da GPU ou do CPU para lidar com a dimensão de texturas e exigência mais pormenorizada (quando comparado com as construções ou personagens mais “abonecadas”).

Por fim, a interface (UI) é sem dúvida uma das melhores neste tipo de jogos, albergando várias melhorias — comparado com outros jogos — que pode conferir se adquirir este título. Simples, design agradável e bastante intuitiva. Basta gastar um pouco de tempo a compreender todos os sítios a que pode aceder logo de caras. Todos os cartões informativos e outros alertas (in-game) estão plenamente enquadrados em todo o contexto societário, não acabando com a imersividade à qual nos vamos habituando — algo parecido com Civilization 6 (principalmente).

Veredito

Humankind mostra que ainda se consegue melhorar uma receita que já parece perfeita. Civilization não tem por hábito ter um concorrente credível, no entanto, este jogo promete impulsionar e elevar um pouco mais além os jogos de estratégia por turno. Quem sabe se não iremos ver algumas destas ideias em novos jogos da aclamada série da 2K Games. A Amplitude Studios está de parabéns pelo avançar do desenvolvimento de um jogo como este.

Julgamos ser importante que a equipa de desenvolvimento mantenha um compromisso no desenvolvimento desta temática e uma abordagem (estilo) expansão para o futuro da série, podendo vir a tornar-se uma série, também ela, aclamada. Sid Meiers ainda pouco pressionada, pode vir a ficar se a Amplitude conseguir expandir os limites de Humankind.

Este jogo foi cedido ao Mais Tecnologia pela Ecoplay, à qual agradecemos a confiança no nosso trabalho e isenção na redação, preparação e avaliação de novos títulos para o site. Esperamos ter ajudado o leitor a decidir-se acerca da possibilidade de aquisição deste título, Humankind. O jogo está disponível por 49,99€ na Steam na sua edição padrão.

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