Análise — Ghostwire: Tokyo

Para começar devo esclarecer que não se deve entrar em Ghostwire: Tokyo à espera de um jogo de terror, não é disso que este título se trata. A Tango Gameworks trocou o survival-horror de The Evil Within por uma caça aos espíritos em formato ação-aventura.

No entanto não é por esta mudança em design que o jogo deixa de ser menos apelativo. Os novos elementos deverão certamente cativar uma nova audiência, não só com o seu foco no espiritualismo tradicional japonês, mas também com uma ação mais rápida quando comparado a jogos survival-horror já lançados pela Tango Gameworks.

Devo dizer que a escolha de cenário e de design em vários elementos do jogo criam uma experiência bastante cativante. Não é todos os dias que podemos combater criaturas estilo Slenderman no meio da baixa de Tóquio, e de noite quando as ruas desta cidade nipónica se tornam muito mais coloridas e vibrantes.

História

O enredo de Ghostwire: Tokyo, em parte segue, um principio clássico. O personagem principal Akito tem como missão pessoal tentar salvar a sua irmã. No entanto vê-se embrenhado num evento apocalíptico em que espíritos malignos invadiram o nosso plano de existência. Para adicionar às coisas Akito é possuído pelo espírito de KK, um caçador espiritual recentemente falecido. A história tem o seu próprio charme e é certamente chamativa, mas isto só acontece até a repetição de gameplay começar a acontecer.

A relação de Akito e de KK faz relembrar como V e Johnny Silverhand interagiam em Cyberpunk 2077. No entanto no jogo de 2020 esta relação era desenvolvida ao longo do jogo para melhor ou para pior, dependendo das ações do jogador. Também contava com alguns flashbacks ao passado de Johnny. Neste novo título Akito e o seu parceiro espiritual parecem estar sempre na mesma; não parece existir qualquer desenvolvimento e os dois personagens estão constantemente a queixar-se um do outro e parecem preferir falar de outros em vez de si mesmos.

Já Hannya, o vilão, é talvez o personagem mais desenvolvido do jogo. Não só é cruel como também tem uma abordagem bastante arrojada à vida e à morte, o que acaba por o tornar muito odiável. Atrevo-me a dizer que se encontra ao nível do variado elenco de icónicos vilões da franquia Far Cry.

Combate

O combate em Ghostwire: Tokyo é talvez a parte mais fraca do jogo. Não é um estilo de combate com socos, pontapés ou golpes de artes marciais, visto que provavelmente nada disso seria muito efetivo contra espíritos de outro plano. Em vez disso Akito conta com uma coletânea de feitiços em formato de feixes e explosões de luz e ainda um arco espiritual, tudo isto garantido por KK.

A variedade é o que limita verdadeiramente este sistema. Sim, existe um sistema de progresso que expande o arsenal mágico de Akito, mas a enorme quantidade de encontros com inimigos acaba por atenuar a adrenalina sentida e acaba assim por tornar cada combate uma tarefa em vez de uma aventura.

Visuais

Graficamente o jogo é satisfatório, não apresenta gráficos capazes de criar uma enorme revolução neste departamento, mas também não devem ser mal vistos. Na realidade fazem relembrar os gráficos presentes em jogos de meados da oitava geração de consolas (Playstation 4 e XBox One). No entanto o mundo do jogo é bastante apelativo e até mesmo imersivo. A acompanhar os gráficos há ray tracing tanto em sombras como em reflexos. Talvez não seja uma adição muito necessária ao jogo, mas é certo que torna esta versão noturna de Tóquio ainda mais apelativa, especialmente nesta representação cheia de poças de água.

Como já referido, o combate é feito com recurso a vários feixes e explosões de luz. Ainda que acabe por se tornar um pouco repetitivo, devo admitir que todas estas misturas luminosas de cores acabam por dar ao jogo um certo charme bastante chamativo, especialmente quando combinadas com a complexa coreografia de mãos de realizada por Akito.

Cidade de Tóquio

O cenário de Ghostwire: Tokyo transmite várias sensações. Não só nos transmite fascínio como também nos transmite uma certa sensação de suspense. Sim, não é um jogo de terror, mas possuí alguns elementos do género.

A maioria da cidade está coberta num espesso e sinistro nevoeiro que só pode ser limpo gradualmente à mediada que veneramos/meditamos em vários altares xintoístas espalhados pelo mapa. Encontrar estes altares acaba por dar ênfase ao que é possivelmente a melhor parte deste novo título, a exploração. Não só podemos explorar o as ruas, avenidas e becos desta icónica metrópole japonesa como também podemos explorar os seus variados telhados, maioritariamente acedidos com a ajuda de amigáveis espíritos em forma de pássaro.

Devo salientar que as ruas de Tóquio estão praticamente vazias, o que acaba por contribuir para aquele sentimento de suspense que já foi descrito. As ruas são apenas habitadas por cães à espera de festas, alguns gatos capazes de realizar transações connosco e uma variedade de espíritos compostos por inimigos, amigos e ainda almas perdidas à espera de ser salvas e transportadas para outro plano.

Um detalhe que gostei pessoalmente são as cabines telefónicas instaladas por toda a cidade. Estas não servem o seu propósito habitual, na realidade os seus telefones estão equipadas com um sistema capaz de enviar almas resgatadas para fora deste evento de extinção. A animação que corre sempre utilizamos uma destas estruturas transmite uma sensação de alívio e de recuperar o fôlego de toda a exploração e combate que acontecem constantemente.

Veredito

Ghostwire: Tokyo é um jogo que possuí o seu próprio lugar na indústria. É um título que não tenta competir com ninguém e não introduz nada de revolucionário na indústria; no entanto isto não é uma coisa má. O jogo apresenta uma aventura à sua maneira o que lhe confere um charme e estatuto únicos, e faz-nos apreciar uma caça espiritual construída de forma simples.

Ao acabar a história principal a minha playthrough já ia quase em 13 horas, com algumas missões secundárias incluídas. No entanto as sua simplicidade compelem-me em voltar para acabar de salvar todas as almas perdidas usando as cabines telefónicas.

Se jogos recentes, tais como Elden Ring, parecem demasiado complexos e difíceis para si. Então recomendo-lhe Ghostwire: Tokyo, a maneira como conta a história e o seu sistema de combate simplificado deverão certamente oferecer-lhe umas boas horas de diversão.

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