Análise — F1 2022 — Realista e divertido!

Esta temporada de 2022 trouxe consigo mais e melhor jogabilidade. Ao contrário da temporada anterior, não foi só chegar e arrasar o campeonato do mundo de Fórmula 1. A série desenvolvida pela Codemasters trouxe uma interpretação exímia do tão aguardado (novo) regulamento que fora adiado por duas vezes em consequência de alguns atrasos no desenvolvimento das bases que permitiriam esta mudança.

O título F1 2022 abandona o badalado modo “Braking point” que fora uma implementação da Codemasters para um modo carreira alternativo que colocava o jogador na pele de um jovem piloto que progredia na carreira com tudo aquilo que tem direito — fazendo jus à realidade — e que permitia uma abordagem técnica, social e de evolução desportiva. A série muda (parcialmente) assim, uma vez mais, o seu rumo, numa altura em que a Electronic Arts adquire a Codemasters, mas garantindo a liberdade no desenvolvimento dos seus jogos.

O receio pelo futuro da série era amplamente partilhado pela comunidade pelo historial de más decisões a cargo da Electronic Arts, no entanto, para já, os fãs podem ficar descansados, pois, o trabalho desenvolvido pela Codemasters na série Fórmula 1 merece crédito, ainda para mais, por ter o total apoio da EA no desenvolvimento de ferramentas que permitam melhorar a qualidade daquilo que é introduzido no jogo — melhorando a expansão do conteúdo deste tipo de jogos no futuro.

Gráficos e ambientação

F1 2022 não acrescenta muito em matéria de recriação do espaço cénico ou das próprias texturas no jogo — consolidando sim, aquilo que foi a proposta de 2021 — e que mesmo não sendo de fácil perceção, não é indiferente a quem conhece os títulos anteriores da série. Em PlayStation 5 (plataforma que analisámos o 2021 e o 2022), a experiência foi consistente neste campo, apesar de coexistirem outros problemas que acabam por prejudicar a imersividade recorrentemente (falar-se-á mais à frente).

A alteração ao regulamento — enquadrado no âmbito da proposta da FIA para os novos monolugares — trouxe uma abordagem que não é nova na F1, o efeito solo (“Ground Effect”) que foi praticado originalmente nos 70s (depois de quase uma década de investigação e testes), mas que acabaria por ser proibida pela FIA por questões de segurança — face ao crescimento desmesurado das motorizações turbo que tornavam os “monocoques” instáveis e propensos a acidentes — numa altura em que um mero acidente poderia representar uma morte neste desporto.

Estas alterações implicaram que os modelos dos monolugares (que poderiam ser reaproveitados na anterior geração) tivessem de ser refeitos para se afirmar com proximidade à temporada real. É evidente que essas alterações foram confirmadas em tempo útil que permitiria que a Codemasters adaptasse as poderosas máquinas de corrida a tempo do lançamento.

Dito e feito, ainda para mais com o apoio da EA, e os novos monolugares ganharam uma nova vida (e para que usa volante, os nossos braços ganham nova vida com a ausência de memória muscular para este novo estilo de condução).

Ao contrário daquilo que aconteceu com F1 2021, o novo título da série (com o emblema da EA Sports) não padece de problemas tão evidentes como no sistema sonoro, na jogabilidade em geral e/ou, nas texturas. Anteriormente, a série brindava-nos negativamente com problemas de dessincronização do som dos monolugares e os seus motores, bugs nas personagens e texturas do paddock, no entanto, excetuando algumas aparições no pódio, não encontrámos problemas que mereçam sequer referência (ainda que ocorra um erro frequente que não se enquadra nestas categorias que falaremos mais à frente).

O modo “MyTeam” — a campanha por excelência!

Em 2021, a campanha dava as boas-vindas a “Braking Point” que se juntava ao modo mais conservador que proporcionava que corresse como um qualquer piloto na F1 ou F2 (com progressão para a F1) e ao modo “MyTeam” (que havia chegado no ano anterior, o ano de 2020) altura que deu um novo folgo a um jogo que se estava a tornar repetitivo e sem grandes novidades.

Oferecendo a possibilidade de personalizar o seu monolugar, criar uma equipa, gerir patrocínios e patrocinadores, este modo coloca-nos como a 11.ª candidata (ao título) na grelha de partida e ainda mais dois pilotos (num total de 22 pilotos) dos quais fará parte além da liderança da sua equipa. Acresce a esta imersividade, todas as dificuldades da gestão financeira, orçamentária e de pessoal (na tomada de decisões importantes) e ainda as decisões de investigação (por área e componente).

Em F1 2022, existem melhorias a “MyTeam” (algo que não aconteceu em 2021), nomeadamente, no início da campanha, podendo selecionar (à parte da dificuldade o jogo) se pretende começar como uma equipa de top-field, mid-field ou bottom-field (grande, média ou pequena equipa), sabendo que ao escolher uma das três terá que lidar com dificuldades diferentes.

Escolhendo uma pequena equipa (como foi o nosso caso), as dificuldades financeiras da primeira temporada foram inúmeras (superadas com desistências, rigoroso orçamento e boas decisões, felizmente) permitindo que ao fim de duas épocas estivéssemos nas melhores de mid-field.

Não sabemos se foi coincidência ou não, mas julgamos que as mudanças de regulamento (depois da primeira temporada) foram mais rápidas. Por exemplo, no nosso caso, fomos beneficiados com a mudança visto conseguirmos acumular alguns pontos de investigação visto sermos uma equipa com infraestruturas mais débeis. Quando soubemos que peças seriam alteradas, foi mais fácil aplicar as alterações necessárias ao contrário de equipas como a Mercedes ou a Redbull. Tirando isto, não houve grandes alterações ao modo, o que não nos espanta visto que “equipa boa, não se mexe”.

Assim como em títulos anteriores, a MyTeam Icons Pack que traz conteúdo adicional de sete pilotos históricos, entre eles, Alain Prost, Nico Rosberg, Jenson Button, Michael Schumacher, Ayrton Senna, Felipe Massa e David Coulthard marca presença e desta vez, gratuitamente. Além destes, existem alguns pilotos de categoria “Bronze” como o piloto Nico Hulkenberg e outros bem conhecidos deste desporto automóvel. Todos estes pilotos especiais podem ser contratados para a equipa para assumir a liderança do campeonato.

Infelizmente, parece que ainda não foi desta que vimos ser integradas as mudanças no design do monolugar — não somos exigentes, mas nem que desse para alterar para estilos pré-definidos ou hipotéticos designs híbridos (misturas com soluções existentes) — que eram uma ótima inclusão numa temporada de mudança de regulamento como é a de 2022. Visto que existem constantes mudanças de regulamento para peças (aerodinâmica, chassis e fiabilidade) e motores, poderia ser uma solução diferente para lidar com os oponentes.

Jogabilidade

É notória a experiência da Codemasters neste tipo de jogo. Praticamente irrepreensível, aliás, como é habitual, o motor gráfico corresponde às expetativas e tal como no mundo da Fórmula 1 — com o novo regulamente — a sensação de manuseio do monolugar ganha novos desafios, ou seja, é quase obrigatório reaprendermos técnicas e ganhar nova memória muscular (para quem usa volante), pois o comportamento destes novos veículos mudou.

A diferença mais notória e comparável com a realidade é a maior facilidade com que fazemos curvas de alta velocidade — graças ao efeito solo — por uma maior proximidade do monolugar do asfalto e consecutivamente maior tração, no entanto, ao contrário dos modelos das anterior geração, cuja downforce era criada por elementos aerodinâmicos por cima do assoalho, bargeboards mais complexas e outros elementos, em baixa velocidade, existe uma menor pressão do ar que encontra os túneis que criam o efeito solo, diminuindo por isso a aderência do monolugar, tornando-o mais instável na travagem ou aceleração.

Algo que posso garantir é que, ao contrário de F1 2021, tive de alterar com bastante frequência a pressão aerodinâmica, alterar a força de travagem (de frente para trás) e baixar a pressão do sistema de travagem para recuperar algum do ritmo que tinha no título passado. Isto, diga-se… sem ajudas à condução, daí o grande problema. Foi necessário perceber onde era possível alterar (no realismo pretendido) o monolugar. Claro que se optar por incluir algumas ajudas, estes problemas são mitigados.

Em matéria de colisões e sistema de danos, F1 2022 retoma o grande trabalho concretizado no título anterior, garantindo uma maior precisão dos danos que afetam o veículo. Aliás, hoje é mais fácil danificar o solo do que anteriormente… e porquê? Como já mencionamos, os novos monolugares têm uma nova forma de gerar tração ou downforce (para ser mais preciso), o efeito solo e para isso, contam com um sofisticado assoalho (chassi no monolugar) que gera a pressão aerodinâmica através de pequenos túneis e efeitos neste “chão” que faz com que a entrada do ar por baixo do monolugar não o levante, mas sim, que o puxe contra o asfalto.

Dito isto, sempre que o monolugar passa por cima de um corretor ou gravilha existe um risco acrescido de danificar este sofisticado chassi e perder assim capacidade aerodinâmica (pontos aerodinâmicos, como é referido agora) e perder assim competitividade.

O sistema “direct drive” — introduzido em F1 2021 — trouxe melhorias na sensibilidade do veículo e muito mais precisão na viragem e ajudando a prevenir o understeering (“fugir de frente”) ou oversteering (“fugir de traseira”). Em F1 2022, este sistema é mais do que fundamental. Arrisco-me a dizer que se esta implementação não tivesse sido feita em 2021, o F1 2022 não seria o mesmo, de todo! Mais complicado, menos prazeroso e pouco preciso.

Por outro lado e ao contrário, de Assetto Corsa que incluiu o famoso “porpoising” no seu motor gráfico, a Codemasters não incluiu este terrifico acontecimento que tanto tem atormentado Ferrari e Mercedes no campeonato de 2022 de F1. Mas calma… não sabe o que é o porpoising? Para quem desconhece ou não compreende o acontecimento (por que causas só as equipas sabem), um(a) “porpoise” é nada mais o que um “boto” (português para uma espécie de golfinho) e porpoise “ing” é a ação de atuar como um golfinho (no mesmo movimento). Mas o que tem isto a ver com F1? Tudo!

A adoção do efeito solo provou ser mais complexo do que as equipas anteviram, pois criou uma tamanha pressão aerodinâmica vertical em altas velocidades, fazendo com que os monolugares ficassem tão próximos do asfalto que em certo momento, a circulação de ar de baixa pressão debaixo do veículo é interrompida (momentaneamente), o ar continua a pressionar, a dianteira sobe, a pressão faz com que a suspensão traseira suba, a frente desça. Este efeito repetido é chamado de porpoise e em alta velocidade repete-se com tanta frequência que parece um golfinho em nado. Isto é tão dramático que aliado a isto, está o desconforto e instabilidade de veículo e piloto (causando dores, náuseas e desnorteio).

F1 Life — um hub que encarna no estilo de vida de um piloto

O F1 Life parece ter sido a nova aposta da Codemasters com um toque da EA Sports que ainda que não tenha sido assim um ponto forte, não deixou a desejar, na medida, em que não compromete a experiência. Este hub pretende aproximar aquela que é a vida de um piloto de F1 fora das corridas, a sua experiência de descanso, em casa, onde pode ostentar os seus luxuosos veículos de alta gama e até participar em experiências semelhantes àquelas que os pilotos experienciam antes dos domingos de corrida, uma volta ou desafio mais rápido com veículos não-F1 (Mclaren’s, Aston Martin’s, Mercedes, Ferrari’s, etc…).

Este modo permite sobretudo que personalize o seu espaço com itens mais (ou menos) engraçados dentro do seu estilo. Percebe-se que é sobretudo uma forma da Codemasters e da EA rentabilizarem o podium pass sem entrar por caminhos mais apertados. Apostando exclusivamente na cosmética (até porque não podia ser de outra forma) sem arruinar o jogo, mas dando estes pequenos privilégios para os jogadores interessados (que existirão com certeza) de personalizar um pouco mais o seu hub e o seu personagem.

Veredito

Este F1 2022, mesmo não sendo perfeito, é um título que demonstra uma série bem mais madura do que em estágios anteriores. É interessante ver o resultado da aquisição da Codemasters por parte da Electronic Arts e nos possíveis frutos que possam surgir desta parceria estratégica e daquilo que estará por vir para o futuro desta incrível série que retratar o campeonato do mundo de Fórmula 1. Em ano de mudança de regulamento — especialmente difícil para equipas (na realidade) e, provavelmente no jogo — ficou evidente que as equipas da Codemasters mostraram estar à altura do desafio.

É mais um jogo que não somos capazes de abandonar com facilidade, pois trouxe a experiência que estamos habituados a ver na TV para as “nossas mãos” e com todo o mérito que pode ser agraciado. É evidente que não estamos perante algo life changing nem nada que se pareça, mas estamos perante algo muito mais sólido e atualizado à realidade deste ano — o que deverá ser suficiente para o que se espera de uma série associada à F1.

É com alguma pena que vemos desaparecer o circuito de Portimão que fez parte do calendário do campeonato do mundo de 2020 e 2021 (durante a pandemia) e que marcava o regresso da F1 em Portugal. Era expectável a saída deste circuito do calendário da F1 por múltiplas razões que não vale a pena mencionar, sobretudo, por não fazer parte dos circuitos “obrigatórios” da Fórmula 1. Em todo o caso, pode sempre usufruir das alterações feitas aos circuitos habituais e que os colocam em paridade com aquilo que tem sido feito na realidade.

O F1 2021 está disponível na e através da Origin (na Instant Gaming) por 48,99€, na Steam (PC) por 59,99€; a “Champions Edition” por 79,99€ no PC (ou por +19,99€); nas consolas Xbox One e PlayStation 4 o jogo está disponível por 69,99€ e as edições Series S|X e PS5 por 79,99€. Para os interessados, a Champions Edition, pode ser adquirida por 89,99€ (nas consolas).

Este jogo foi analisado numa PlayStation 5, tendo jogado com a edição “Champions” e utilizado por pilotar os monolugares um volante Thrustmaster T300 Ferrari Integral Alcantara Edition. Finalmente, não poderíamos deixar de agradecer à Playnxt por nos ter proporcionado a oportunidade de receber antecipadamente o título para análise e futura publicação da nossa opinião isenta sobre este jogo.

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