Análise de Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões — Review

Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões marca o regresso da série Uncharted pelas mãos da Naughty Dog — mais de um ano depois do lançamento de The Last of Us: Parte 2, que gerou alguma controvérsia, apesar da pontuação mais elevada entre os media — agora, o estúdio responsável por uma das séries mais emblemáticas do universo PlayStation, traz de volta algum do sucesso que foram as expansões, à data na PlayStation 4, de Uncharted.

Legacy of Thieves Collection — termo em inglês — demonstra o compromisso em manter a «chama acesa» entre a comunidade, apelando ao carinho dos fãs — e vários que o são, desde a PlayStation 3 — que se tornou aclamada não apenas pelos media, mas também pela comunidade como um todo. É importante mencionar que a série já vendeu mais de 42 milhões de unidades em todo o mundo, com títulos classificados «Jogo do Ano» por diversas vezes.

A série atingiu dimensão tal que acabou por sair do universo dos videojogos para os cinemas, sendo que «Uncharted» (o filme) estreia no próximo dia 18 de fevereiro com Tom Holland — personagem que interpreta o terceiro homem-aranha — e que protagonizou «Spider-Man: No Way Home». Ao contrário daquilo que costuma acontecer, em que o filme dá lugar a jogo, parece que Uncharted demonstrou como também os jogos podem dar origem a grandes êxitos de bilheteira.

Narrativa — nostálgica, um sucesso de dois grandes títulos

Este título chega-nos como uma remasterização de Uncharted 4: O Fim do Ladrão e Uncharted: O Legado Perdido. É, porém, algo nostálgico o facto de podermos recordar alguns dos melhores momentos de Uncharted. A respeito deste ponto, foi uma excelente abordagem por parte da Naughty Dog — sobretudo para os aficionados pela série que já esperavam um passo como este — para poderem usufruir do jogo com todo o poder disponível da nova geração de consolas.

Em «O Fim do Ladrão», vários anos após a última aventura, o reformado caçador de fortunas, Nathan Drake, é forçado a voltar ao mundo dos ladrões. O destino acaba por clamar e quando Sam, o irmão presumivelmente morto de Drake, reaparece em busca da sua ajuda para salvar a sua própria vida, oferece a Drake uma aventura à qual não pode resistir. A maior aventura de Nathan irá levá-lo ao extremo quer da sua determinação, quer físico e, finalmente, compreender até onde será capaz de se sacrificar para salvar aqueles que ama.

Em busca do tesouro perdido do Capitão Henry Avery, Sam e Drake partem para encontrar Libertalia, a utopia pirata nas profundezas das florestas de Madagáscar — levando a uma jornada em redor do mundo através de ilhas selvagens, cidades distantes e picos nevados na busca pela fortuna de Avery.

Algo que, provavelmente, lhe será familiar, mas que nunca cansa de viver novamente. Esta edição, particularmente, possibilita a todos aqueles que optaram por não adquirir estas expansões do jogo originalmente lançado para PlayStation 4, que o façam se tiverem a oportunidade de o jogar numa PlayStation 5 — com tudo o que isso possa ter de bom para a comunidade PlayStation e, em particular, para os aficionados da série Uncharted.

Uncharted: Legacy of Thieves Collection que engloba também «O Legado Perdido» relembra as peripécias decorridas na península indiana, onde de modo a recuperar um artefacto antigo e mantê-lo fora das mãos de um guerreiro implacável, Chloe Frazer irá poder contar com a ajuda da mercenária de renome, Nadine Ross, e aventurar-se nos Ghats Ocidentais da Índia para localizar a Presa Dourada de Ganesh. Na maior jornada de Chloe até agora, ela deve confrontar o seu passado e decidir o que estará disposta a sacrificar para determinar o seu próprio legado — seja bom ou mau.

É de alguma prudência não entrar em grandes detalhes, sobretudo, porque já se conhece grande parte da história por detrás de ambas as expansões, no entanto, algo que posso dizer com franqueza é o facto de existir um compromisso para com a comunidade em trazer — com tem sido hábito — um jogo com uma forte narrativa, espírito cinematográfico que fez de séries como The Last of Us e o próprio Uncharted tão únicos à sua maneira e isso deve-se, sem dúvida, à Naughty Dog.

Jogabilidade — um motor gráfico perfeito para maior frame-rate

Esta edição de Uncharted: Legacy of Thieves Collection resgata aquele que tem sido o ótimo trabalho em criar um motor gráfico rigoroso, polido e que oferece uma experiência tão ou mais realista do que outros títulos do género. Isso foi visível com The Last of Us no que a movimentação, manuseio de armas e reação dos objetos ao contacto com a personagem. O título, como remasterização completa, não apenas reforçou a sua qualidade ao nível gráfico, como em termos de jogabilidade — algo que acaba por ser, inevitavelmente, mais importante do que o grafismo.

Ao observarmos o caminho da série Uncharted, percebemos que a série tem recebido melhorias contínuas no motor gráfico — contribuindo, em clara medida, para a experiência que passa para o jogador. «Lost Legacy» melhora aquele que foi o legado de Uncharted 4. O estúdio da Naughty Dog tem vindo a reinventar a experiência de roteiro, tornando-o mais próximo de mundo aberto — ainda que não o seja explicitamente — com maior liberdade na tomada de decisão. Esta última expansão aproximou Uncharted de uma espécie de mundo aberto, como nenhuma outra expansão ou título da série.

É divertido explorar e cada vez mais os jogadores — como verdadeiros exploradores — apreciam a liberdade de poder construir uma história à sua imagem. A jogabilidade é fundamental para conseguir esse feito. Uncharted tem permitido cada vez mais liberdade na abordagem a cada missão, mas ficamos com a sensação de que isso ainda é limitado, ou seja, ainda somos conduzidos ao rumo que se pretende para a história. Atenção, com rumo, não queremos dizer que quiséssemos algo diferente no que diz respeito ao resultado, mas sim no decorrer da história, com diferenças no decorrer da história.

Parece existir um compromisso em motivar o jogador a explorar, no entanto, existem algumas incongruências no que diz respeito a explorar. Os jogadores parecem ser impedidos de tomar decisões que parecem aparentemente racionais em virtude de seguir um roteiro restrito para a forma como abordam certas missões ao longo de toda a campanha. Isto não tem de ser necessariamente mau, mas acaba por desiludir quando vemos propostas idênticas em outros jogos. Uncharted é único no estilo, mas sendo um jogo que promove explorar e procurar tesouros é um tanto quando dicotómico limitá-lo (algo que não é compatível com um aventureiro).

Parte do conteúdo de «Legacy of Thieves Collection» reflete — como não podia deixar de o ser — aquilo que são os alicerces para esta remasterização (por muito que procurem inovar). É interessante e sobretudo uma mais-valia para quem procura maior fluidez nesta jogabilidade e gráficos atualizados ao tempo atual, com a inclusão de 120 fps em Full-HD, melhorando em larga medida a experiência em combate, onde a elevada taxa de frame-rate beneficia de forma evidente a agilidade para reagir às enormes hordas de perigosos inimigos que enfrentamos. Alternativamente, se procura navegar pela história observando as incríveis paisagens indianas, 4K em 60 frames pode ser uma ótima alternativa, ou eventualmente, se a fluidez não for um «must-have», pode sempre aumentar o grafismo ficar-se pelos 4K a 30 fps.

Como tem sido hábito, o jogo oferece cenários repletos de ação, destinos exóticos e verdadeiros quebra-cabeças (que às vezes até chateiam). A oportunidade de — idêntico aquilo que acontece em TLoU — eliminar dezenas de inimigos de forma furtiva é, sem dúvida, aquilo que mais me entusiasmou, sobretudo, pela adrenalina de manter tudo em silêncio sem despertar a atenção inimiga. Existem situações que são verdadeiramente caricatas e que só acontecem em propostas de jogo como estas, em que o single-player pode ser tão divertido como os modos multijogador, em que temos oportunidade de baralhar a IA a ponto de cometerem erros grosseiros no meio das trocas de tiros, por exemplo.

Em poucas palavras, a jogabilidade é um tema que acaba por ser sempre delicado, pois levanta considerações mais pessoais e que são suscetíveis de gerar, ou controvérsia, ou motivo de discórdia. Contudo, a série Uncharted tem-se mantido fiel aquilo que foram os passos bem dados e que impressiona a comunidade, em particular, os jogadores PlayStation que já se habituaram a este registo. Até fora do seio das consolas, os jogadores têm sentido falta da presença mais ativa da PlayStation no PC, onde milhares de jogadores gostariam de aproveitar a liberdade de desempenho que o computador proporciona, aliado a narrativas e jogabilidade de excelência.

Ambientação — a esperada, partilhando o palco de grandes títulos

Ao nível da ambientação, Uncharted sempre mostrou que era um potencial candidato a prémios de cenografia, pelas incríveis paisagens ou locais cénicos que apresenta ao longo de toda a série. Uncharted 4 mostrou algumas das melhores imagens dos últimos tempos, não descorando outras propostas (até melhores). A Índia deu palco a «The Lost Legacy» e permitiu, pela primeira vez, explorar mais do que em qualquer outro título da série.

O novo Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões reafirma a intenção de «combater» a linearidade tradicional da série (ao qual já nos referimos anteriormente na análise), procurando com maior afinco a possibilidade de chegar a mais jogadores com maior detalhe gráfico para uma ambientação que se mostra rica, mas agora com uma maior disponibilidade por parte do hardware que está mais do que preparado para enfrentar e reproduzir as incríveis cenas de Coleção Legado dos Ladrões.

O cuidado que a Naughty Dog tem tido ao trazer ambientes ricos em detalhes e história para o jogo é meritório de ser elogiado. A criatividade para a elaboração de cenários existe e não tem desiludido. O que é pena, é o facto de não acompanhar essa criatividade ao permitir ao jogador mais rumos ou alternativas a serem seguidas para o desenrolar da ação. Em «The Lost Legacy» os jogadores interpretam o papel de Chloe Frazer, a companheira de Drake na caçada de tesouros. Chloe encontra-se na Índia no meio de uma guerra civil, em busca de um tesouro chamado «Presa de Ganesha».

Embora os jogadores controlem diferentes personagens grande parte da jogabilidade é um padrão para a série de quase uma década. O brilho da ambientação não se perde e continuamos a adorar cada momento que passamos com o jogo, no entanto, a monotonia de umas rotas que seguimos durante a campanha acabam por afetar a experiência na medida em que se torna repetitivo. «Legacy of Thieves Collection» mostra-nos que ainda é possível haver lugar a melhorias, não fosse estarmos a falar de uma remasterização.

O confronto do equilíbrio de cores com o maior espectro visual do jogo, conferem-lhe um caracter sólido, afastando-o de uma mera remasterização, para algo mais dinâmico — muito graças à versatilidade do motor gráfico — que, pode ser só impressão minha, mas foi retrabalhado para oferecer uma melhor dinâmica enquanto caminhamos e saltamos de obstáculo em obstáculo.

Dito isto, e compreendendo a conexão entre os biomas, as personagens, as construções e os pequenos detalhes (ou colecionáveis) deixados pela equipa de desenvolvimento elevam o jogo a um outro nível, mas até que ponto isso é suficiente para superar a monotonia de algumas decisões criativas do espaço cénico do enredo?

Qualidade gráfica — poucas palavras para descrever a sensação

O título sofre uma mudança evidente no aspeto gráfico — motivado pela remasterização — e que permite mostrar a potencialidade da série para o futuro, diga-se, para a nova geração de consolas e até para PC, com o lançamento de alguns dos jogos que mais furor fizeram entre a comunidade PlayStation. Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões oferece três opções de jogo (em matéria de qualidade gráfica).

Pela primeira vez, tivemos oportunidade de experimentar jogar um jogo da série em 4K a 30 e 60 fps (dependendo do nível de fidelidade), alternando entre o modo «Fidelidade» e «Performance». Para os interessados em maior fluidez, como mencionámos, existe o modo «Performance+» que permite que jogue em 1080p a 120 fps. Felizmente, hoje temos oportunidade de testar soluções como essa, e temos a dizer que qualquer uma das soluções apresenta uma qualidade inquestionável, permitindo usufruir ao máximo do enredo, texturas e ambientação disponibilizados nesta nova coleção remasterizada.

O impacto entre os 4K a 30 e 60 fps não é tão notório em termos gráficos como se poderia pensar, até porque falamos apenas de uma questão de estabilidade (que terá que ver com algumas opções que envolvam maior detalhe na imagem), claro que em suavidade da jogabilidade, a conversa é outra, por certo. Claro que em relação à opção de 1080p, as diferenças são mais evidentes ou não estivéssemos a falar de 120 imagens por segundo, no entanto, ficamos bastante surpreendidos por qualquer uma das opções escolhidas, o jogador sai bem servido.

O MaisTecnologia optou por alternar em vários momentos da campanha – durante cut-scenes e momentos de jogabilidade mais intensos – entre as várias opções e o resultado foi incrível em qualquer uma delas. Categoricamente, num monitor 4K de 144 Hz de 27″, as diferenças em matéria de resolução fizeram-se notar, mas nada que fira a sensibilidade dos jogadores mais atentos e, sobretudo, ao nível da fluidez, a única que fez sentir mais a diferença foi a mudança para 30 fps (que só utilizamos para planos próximos de rostos — em cut-scene — onde era procurado mais detalhe), pois na restante jogabilidade balançamos entre os 60 fps e os 120 fps (em 1080p) que foram mais que suficientes.

Veredito

É incrível poder ter a oportunidade de constatar a evolução geracional numa consola a este nível. Estamos convictos que os próximos jogos da série ou outros exclusivos (e até mesmo não-exclusivos) podem surpreender os jogadores que jogam na consola, pois sabemos que os jogadores de PC não notam com frequência essa diferença porque têm sempre maior liberdade para configurar os detalhes a gosto, dependendo das especificações do computador.

Uncharted: Legacy of Thieves Collection surpreende ao nível gráfico, no entanto, as restantes implementações oferecem aquilo que já esperávamos, dado que estamos a falar de uma remasterização. Este é aquilo tipo de coisa que já nos habituámos com a Naughty Dog — a mais, não é preciso ir muito longe, pois The Last of Us: Remastered foi um verdadeiro sucesso quando foi lançado para PlayStation 4 — e que reforça a confiança no trabalho do estúdio. Este título «Collection» demonstra bem o empenho aquilo que teria sido um Uncharted 4 com esta qualidade de imagem.

Por fim, manifesto agrado pela cedência de uma cópia de Uncharted: Coleção Legado dos Ladrões para análise, aqui, no site do MaisTecnologia, possibilitado apenas pela PlayStation Portugal. Para os aficionados da série, fica a recomendação de mais uma ótima remasterização para quem já teve a oportunidade de adquirir a consola de nova geração, PlayStation 5. Os jogadores terão oportunidade de adquirir em pacote 2-in-1 por 49,99€, ou no caso de já ter adquirido ambos os jogos na geração passada, pagar 10,00€ para ter acesso a esta nova versão com maior disponibilidade gráfica.

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