Em 2018 era anunciada a compra do estúdio Ninja Theory pela Microsoft por cerca de 117 milhões de dólares americanos, uma das maiores compras de sempre da empresa informática. Assim, Ninja Theory juntava-se à família dos estúdios de videojogos Xbox (Xbox Game Studios), trazendo com ela os direitos de autor do título Hellblade: Senua’s Sacrifice, que viria a ser uma franquia anos depois.
Com esta grande aquisição, uma sequela direta para o título acima referido passava a ser anunciada como exclusiva às consolas Xbox Series X|S e ao PC, uma informação à qual ninguém deu muita importância. Isto viria a mudar com a revelação oficial de Senua’s Saga: Hellblade II nos The Game Awards 2019, por ser apresentada uma obra-prima, totalmente produzida no Unreal Engine 5, que passaria a ser um dos títulos mais aguardados de sempre.
Agora, cinco anos depois do seu anúncio oficial, Senua’s Saga: Hellblade II chega finalmente às Xbox Series X|S e ao PC, sendo um dos títulos que maior partido tira do novo Unreal Engine 5 e da sua tecnologia, tendo sido aqui testada e analisada a sua versão para PC. Desta forma, foram classificados vários aspetos importantes do novo título, como a Narrativa, a Jogabilidade e Combate, a Ambientação, e a Qualidade gráfica e Desempenho, tendo sido atribuído um Veredito no final, que tem por base estes aspetos.
Narrativa — profunda e intensa
A nossa primeira paragem nesta nossa nova aventura nórdica é a análise da Narrativa presente em Senua’s Saga: Hellblade II, que acima de tudo pode ser descrita como uma profunda e intensa jornada de autodescobrimento, onde os jogadores voltam a assumir o papel de Senua, assim como no primeiro jogo.
Os vários acontecimentos épicos presentes no novo título da Ninja Theory são, definitivamente, uma sequela direta aos eventos testemunhados em Hellblade: Senua’s Sacrifice, lançado no ano de 2017, sendo o tempo de separação entre os dois títulos entre seis (6) a sete (7) anos.
A história que presenciamos em Senua’s Saga: Hellblade II é, acima de tudo, uma experiência bastante profunda e intensa de autodescobrimento, como anteriormente referido, onde os jogadores se envolvem inteiramente com a Senua e o que vai na sua cabeça à medida que avançam na narrativa, experenciando dentro deles próprios o mesmo que ela.
Durante esta jornada, que pode também ser descrita como macabra e sinistra, todos testemunharão o que mais assombra Senua e o mundo que ela, por escolha própria, decide enfrentar por um bem maior. Esta história consegue ser tão cinematográfica, como um imersivo filme IMAX, que faz-nos sentir como os protagonistas desta, algo acrescentado pelo extremo realismo do título a todos os aspetos.
Senua, ainda amaldiçoada após os eventos do primeiro título, vive uma verdadeira luta contra tudo e todos para alcançar os seus objetivos, colocando os jogadores dentro de uma verdadeira experiência esquizofrênica. Isto deve-se à sua luta estar também na sua cabeça, pelas múltiplas vozes que ouve, que simbolizam os seus anjos e demónios interiores que, tanto estão com ela como contra a própria, contrariando cada decisão que toma e levantando inúmeras suspeitas sobre todos.
Vale assim, por isso, dar os parabéns à atriz Melina Jurgens, que volta para interpretar a personagem de 2017, agora mais madura. Melina foi para além do seu talento e capacidades de atuar para nos entregar uma das suas melhores atuações no mundo dos videojogos, atrevendo me a dizer que merece um Oscar pela sua performance atrás das câmaras.
A jornada de Senua envolve, como já disse, lutar contra os seus demônios interiores e monstros dum mundo sombrio, mas isso não significa que tenha de o fazer sozinha. Ao longo da sua jornada, Senua vai conhecendo outros que se juntam a ela, o que enriquece bastante a história pelas múltiplas linhas de diálogo entre todos.
Apesar disto, estas personagens secundárias carecem bastante de um desenvolvimento significativo para além de um nível superficial, o que desaponta imenso. Não conhecer ou ver o passado destas, mas apenas o ouvir, causa desinteresse e perda de gosto por essas mesmas personagens.
Senua’s Saga: Hellblade II oferece a todos uma das mais épicas e brutais aventuras nórdicas do mundo dos videojogos, sendo uma das suas poucas fraquezas a pequena duração de sete (7) a nove (9) horas, que ao mesmo tempo se transforma numa das experiencias mais aterrorizantes e macabras que já assistimos até hoje, tudo dentro daquilo que a penas posso descrever como um “imersivo filme IMAX”.
Jogabilidade e Combate — realistas e estrondosos
A Narrativa na sua totalidade não consegue fazer de Senua’s Saga: Hellblade 2 a obra-prima cinematográfica que é, necessitando da Jogabilidade e Combate para conseguir transmitir esse mesmo efeito a qualquer um que jogo este fantástico e muito bem concebido título.
Comparativamente ao primeiro título da franquia, publicado em 2017, a Jogabilidade e Combate permanecerem idênticos aos que vemos hoje, mas é possível notar um enorme esforço do estúdio para tornar estes mais realistas, imersivos e estrondosos do que em 2017, algo que alcançaram com muito sucesso.
A Jogabilidade e Combate de Senua’s Saga: Hellblade 2 transmitem uma sensação de novidade aos jogadores, tendo um maior impacto e vibração nos mesmos, fazendo-os sentir cada ação de Senua durante a sua jornada. Tudo é impactante, q cada momento pode ter um desfecho positivo ou negativo dependendo da reação dos jogadores.
Agora mais velha, Senua apresenta uma maior força e resistência física, mas os seus inimigos são muito maiores e mais brutos do que ela, sendo uma grande maioria deles humanos, o que torna tudo mais complicado. Mesmo assim, ela luta com coragem e determinação, sendo isso muito bem transmitido a quem a controla por meio da nova Jogabilidade e Combate executada no título.
Os vários combates que testemunhamos ao longo do título são, sem quaisquer dúvidas, bastante brutais e estrondosos, sendo cada golpe dado ou sofrido por Senua bastante impactante para ela, mas também para o jogador. Isto é graças à câmara de jogo que, nestes momentos, está sempre firme e focada em Senua.
Olhando para 2017, o combate parece muito mais físico agora, com esquivas, defesas e bloqueios muito mais rápidos e intensos, havendo uma janela mais curta para realizar os mesmos. Sente-se imenso que a Jogabilidade e Combate deste título exigem mais reflexos e atenção por parte dos jogadores.
Apesar de tudo isto, sinto bastante que a Ninja Theory podia ter ido mais além nesta categoria, na medida em que podia ter desenvolvido, ou aprofundado, mais esta categoria com o novo título, tendo optado por apenas tornar a Jogabilidade e Combate de 2017 mais fluída, brutal, estrondosa e realista em 2024.
Não existem novos combos de ataques, novas mecânicas de defesa ou esquivo, e novas ações de ataque, o que torna esta secção repetitiva para Senua’s Saga: Hellblade 2, não se afastando muito daquilo que Hellblade: Senua’s Sacrifice era em 2017, e continua a ser nos dias de hoje.
Isto não deixa de tornar os encontros do título de hoje extremamente violentos e ameaçadores, com Senua a enfrentar novos tipos de inimigos bastante musculados e macabros, que fazem de tudo para a matar de diferentes formas simplesmente aterradores e brutalistas.
Apesar de haverem elementos do primeiro título em falta neste, a permanência da ausência de um HUD durante todo o título, a existência de inúmeros encontros de um para um e a presença de barras pretas na base e topo do ecrã o tempo inteiro é fantástico e muito bem executado neste título, algo que o torna muito mais cinematográfico e real, fazendo com que este transmita a sensação de que estamos ver um filme.
Existem também inúmeros quebra cabeças ao longo da jornada de Senua que alteram os ambientes à sua volta, e que foram a escolha acertada por parte dos desenvolvedores do título trazê-los de 2017 para 2024, pois dão mais vida e acrescem alguma dificuldade ao jogo, assim como identidade à franquia.
De um modo geral, a Jogabilidade e Combate presentes em Senua’s Saga: Hellblade 2 é extremamente envolvente e fisicamente exigente, transmitindo realidade e muita imersão aos jogadores. Estas são também extremamente cinematográficas, levando a pensar que estamos a ver um filme IMAX no cinema e não a jogar em casa, tendo pena de a Ninja Theory não ter ido mais além nesta categoria, relativamente a 2017 e ao período de cinco (5) anos entre os dois jogos.
Ambientação — sombria e inquietante
Ainda nos falta analisar a Ambientação presente no novo Senua’s Saga: Hellblade II, podendo desde já afirmar a extrema importância desta para todo o desenrolar do título. A Ambientação é um ponto importante para qualquer jogo, pois controla e contém o mesmo, ao mesmo tempo que ajuda a aumentar a imersividade e a realidade da experiência que um título tenta fornecer ao jogador, quando bem executada.
Quando jogamos Senua’s Saga: Hellblade II, rapidamente nos apercebemos do quão real a frase acima escrita é, e do quão bem executada a Ambientação presente neste título está. O mundo que nos acompanha durante a nossa jornada é fortemente inspirado pela mitologia nórdica, elevando o seu nível de representação e fidelidade, comparativamente a outros títulos com a mesma inspiração.
Este mundo, com várias formas e feitios, é extremamente rico e detalhado, mostrando ao pormenor e com o maior dos rigores e detalhes os seus muitos perigos, e o que sucede aos que cuidado ou escolha não têm. Apenas consigo descrever a minha experiência ao ver estes muito horrores idêntica à de os examinar na vida real, o que é para lá do extraordinário.
Os vários horrores e medos que assombram Senua rapidamente ganham vida naquela que é uma das mais macabras e sombrias Ambientações que já expectei nesta indústria, deixando muitos ansiosos e inquietados, ou incomodados, tornando a experiência de Senua bastante real para todos os que a vivem atrás do ecrã.
Ao mesmo tempo, este mundo é extremamente cinemático, elevando todos e quaisquer momentos de luta a um novo nível de imersividade e realismo, fazendo-nos sentir na nossa pele todos os cortes e feridas de Senua, fazendo-nos sentir os seus próprios medos na nossa cabeça, pela forma como nos apresenta cada um dos seus belos e extravagantes cenários.
A cinematográfica Narrativa que vivemos durante a nossa experiência só tem o impacto que tem graças à Ambientação por detrás, que a eleva a todo um novo nível de horror pelos vários afeitos que nos mostra ao longo da mesma, assim como pelas variações de ambientes para atenuar o impacto da Narrativa.
Os múltiplos ambientes do jogo variam de escuros e perturbadores a pitorescos, e os efeitos de iluminação e neblina adicionam profundidade a cada cena que o jogador assiste. Os locais que aparentam ser calmos e relaxantes, rapidamente se transformam nos mais tenebrosos de sempre, impactando bastante os vários intensos encontros com terrores de outros mundos.
Senua’s Saga: Hellblade II pode, desta forma, ser descrito como o horror e, ao mesmo tempo, o terror em videojogo, mostrando e transmitindo esses efeitos com bastante cinematografia, graças a vários fatores, sendo um dos principais a Ambientação, que proporciona aos espectadores um experiência bastante sombria e inquietante que deixa qualquer um de coração nas mãos.
Qualidade Gráfica e Desempenho — deslumbrantes e fluidos
Senua’s Saga: Hellblade II não pode receber um veredito final sem ser analisada a Qualidade Gráfica e Desempenho deste na plataforma de PC, onde este foi testado por mim. Por ser um título apenas disponível nas Xbox Series X|S num mundo das consolas, vale também a pena dar uma vista de olhos ao título nestas plataformas, mas apenas nesta categoria.
Falando primeiro acerca do PC onde o título foi rodado na sua totalidade, Senua’s Saga: Hellblade II foi jogado num computador com uma placa gráfica Nvidia Geforce RTX 3070, da MSI, com 8 GB de VRAM DDR6; um i7-11700K, da Intel, com 8 núcleos e uma frequência turbo de 5.0GHz; e ainda 32 GB de memória RAM DDR4, da G.SKILL.
Em termos da sua Qualidade Gráfica, tanto nas consolas Xbox como no PC, o novo Senua’s Saga: Hellblade II pode ser descrito como uma experiência visualmente deslumbrante, levando ambas as plataformas ao seus limites neste aspeto, por apresentar a todos alguns dos visuais mais realistas e imersivos já vistos nesta indústria.
O nível de detalhe que todos os diferentes cenários presentes em Senua’s Saga: Hellblade II apresentam é de cortar a respiração, levando qualquer jogador à loucura, tal como Senua. Quando juntamos tudo isto a uma falta de elementos por renderizar em qualquer momento desta experiência macabra e sem quaisquer falhas e erros gráficos, acabamos por experência um verdadeiro e “imersivo filme IMAX” em nossa casa, sem ir ao cinema.
Apesar disto, um dos problemas que encontro a nível do PC, não só com este mas com uma grande maioria dos títulos que chegam ao mercado atualmente, é o facto de ser obrigado a utilizar uma tecnologia de “Upscaling” para jogar o título nesta plataforma, o que denegrida um pouco, em certos casos bastante, a Qualidade Gráfica do título.
Apesar de ser verdadeira uma obra-prima a nível gráfico e visual, Senua’s Saga: Hellblade II sai prejudicado nesta plataforma por nem sempre eu puder tirar partido da sua Qualidade Gráfica, uma das melhores desta indústria, o que é bastante negativo na minha opinião.
Outro aspeto que torna Senua’s Saga: Hellblade II no título que é o uso de áudio binaural por parte da Ninja Theory, que torna toda a experiência muito mais realista e imersiva do que a maioria de outras oferecidas por esta indústria. Para quem desconhece, este tipo de áudio é uma técnica que procura replicar a experiência natural de audição, fazendo uso de uma importante característica do nosso sistema auditivo, a diferença de tempo e intensidade do som que chega a cada um dos nossos ouvidos.
Com a utilização disto, jogar Senua’s Saga: Hellblade II é o mesmo que ver um filme IMAX numa sala de cinema, algo que já referi inúmeras vezes, por nos permitir perceber sons tridimensionais e identificar a localização de qualquer fonte sonora no espaço tridimensional, o que aumenta ainda mais o realismo e a imersividade de toda a experiência.
Avançando agora para o desempenho do título, a nível do PC, posso dizer que Senua’s Saga: Hellblade II é um título bastante fluído neste aspeto, mesmo com a Qualidade Gráfica que apresenta, o que faz deste um jogo bastante otimizado para a plataforma em questão.
Não foi um título que apresentou várias ou grandes quedas de frames (fps) durante toda a minha experiência, mesmo com elevada informação no meu ecrã de jogo. Com a resolução defenida a 1080p, consegui sempre manter-me acima dos 90, e até mesmo dos 100 frames (fps), o que mostra uma boa otimização do título. Esta poderia ir mais além se não fosse obrigado a utilizar uma tecnologia de “Upscaling”, como disse anteriormente.
A nível das consolas da Microsoft, as Xbox Series X|S, a performance do título não é das melhores pois, devido à sua massiva Qualidade Gráfica, este apenas consegue rodar a 30 frames (fps), sendo que a Xbox Series S mostra problemas em manter-se estável nessa fraca marca.
Apesar de estarmos perante uma geração de consolas com um puder gráfico e de processamento para jogar títulos a uma taxa mínima 60 frames (fps), alguns títulos ainda estão presos na geração anterior, sendo o novo Senua’s Saga: Hellblade II um desses mesmos títulos.
Posso apenas avançar para o Veredito de Senua’s Saga: Hellblade II reafirmando a fantástica e deslumbrante obra-prima que este título é a nível gráfico e visual, sendo um dos mais realistas e bem concebidos desta indústria atualmente. Acerca do seu Desempenho, este deixa muito a desejar, tanto no PC como nas consolas, necessitando de uma grande revisão nesse aspeto.
Veredito — um imersivo filme IMAX
Quando olhamos para os vários trailers deste título, como o apresentado no inicio desta análise, parece que este jogo é uma grande mentira, mas quando o jogamos constatamos que é real, bastante real, tão real que se parece mais com um filme IMAX do que um simples videojogo.
Senua’s Saga: Hellblade II consegue, assim, fazer o impossível, entregar a nós, jogadores, uma das experiências mais realistas e, principalmente imersivas dos videojogos até hoje concebidas, e sem fazer qualquer uso de realidade virtual para o mesmo. Graças ao Unreal Engine 5 e à revolucionária tecnologia deste, Ninja Theory consegue produzir a sua maior obra-prima de sempre, fazendo mais do que um simples jogo de consola, produzindo um “imersivo filme IMAX” cortar a respiração do espectador.
Antes de dar o meu veredito final, gostaria apenas de agradecer à representação portuguesa da Xbox e da Ninja Theory pela oportunidade de poder jogar e analisar esta fantástica obra-prima, assim como dar os meus parabéns à própria Ninja Theory pelo lançamento de Senua’s Saga: Hellblade II, assim como por todo o sucesso que este está a receber.
Sem mais demoras, é com enorme gosto que atribuo a este “imersivo filme IMAX” uma pontuação bastante elevada, não deixando de o recomendar a todos os que ainda não o experienciaram, especialmente aqueles com uma subscrição do Xbox Game Pass, onde o novo Senua’s Saga: Hellblade II está presente.