A indústria dos videojogos tem vindo a crescer de ano para ano e, como resultado, cada vez mais entidades muito bem estabelecidas em outros mercados querem fazer parte de um dos maiores do mundo. Tal como muitas outras empresas, também a gigante Google viu interesse neste e lançou em 2019 o serviço gaming Google Stadia.
Apesar de ser um serviço de uma multinacional de elevado estatuto e nome como a Google, o Stadia acabou por ser um fracasso a nível internacional, o que levou ao seu encerramento em 2023. Como consequência, títulos exclusivos da plataforma, como o Gylt, chegam agora às restantes plataformas disponíveis no mercado, como o PC, onde o título foi analisado.
Nesta análise irá ser avaliada a versão de PC do jogo, onde iremos classificar entre 0 e 10 valores vários aspetos importantes a considerar da mesma, sendo estes a narrativa, a jogabilidade, a ambientação e a qualidade gráfica e desempenho, dando no final o veredito, que tem por base os aspetos já referidos.
Narrativa — melhor do que esperava
A narrativa de Gylt é, desde já, bastante boa, para um título indie, e muito melhor do que eu próprio esperava, tendo me surpreendido pela positiva. Esta narrativa pode ser tocante para muitos por se focar num tema, e se desenrolar em torno deste, que afeta muitas crianças, o bullying, sendo muito pessoal para alguns.
A narrativa foca-se na nossa protagonista, a Sally, uma menina que procura a sua prima, que desapareceu misteriosamente. Após um confronto e uma perseguição com uns bullies, Sally é levada para o mundo sombrio e tenebroso em que o jogo se desenrola na sua totalidade.
Durante a narrativa neste mundo assustador, Sally vai se aperceber de que a sua prima era vítima de bullying, tendo agora de salvar a prima deste mundo de terror e de a ajudar com a sua situação degradante de que sofria no seu mundo verdadeiro, tarefa que dificilmente não será fácil.
Esta narrativa é, sem querer estar a repetir-me, uma excelente história que retrata muito bem o que é sofrer de bullying na infância e o quão prejudicial isso pode ser para uma criança, especialmente quando mais ninguém se apercebe da situação que esta enfrenta na escola.
Desta forma, a narrativa exposta perante os nossos olhos acaba por ser, para muitos, pessoal de inúmeras formas, o que nos faz conectar bastante bem com Sally, estando desposto a ajudar a própria a encontrar e salvar a sua prima do mundo horrível onde estão presas, algo que nem todos os títulos, até mesmo os triple-A, conseguem alcançar sempre.
Esta narrativa dura entre 4 a 5 horas, como era de esperar para um título deste feitio mas, isso não fez dela uma má narrativa pois, esta é excelente, tendo mais do que um final e, alguns destes bastante difíceis de encarar cara a cara.
Como pontos negativos, acho que o facto de não ser mais de 4/5 horas de tempo de narrativa é um pouco chato, pois adorava poder ter mais tempo para me conectar com as personagens mas, principalmente, com o mundo em que me encontro. Ao mesmo tempo, a mistura de cutscenes dentro do motor gráfico do jogo e cutscenes estilo banda desenhada degrada um pouco esta narrativa, pelo não deviam haver cutscenes estilo BD.
Esta narrativa mostra a realidade por detrás do bullying e é de facto bastante impressionante para um título desta escala, não tendo muitos pontos negativos, pelo que merece uma pontuação elevada, pelas razões acima e por ser muito melhor do que eu próprio esperava.
Jogabilidade — simples mas adequada ao título
Outro aspeto que temos de ter em atenção é a jogabilidade de Gylt. Esta é, como de esperar num título indie, simples mas, mesmo assim, é importante analisar se esta está bem concebida para o título e se é adequada para o mesmo, assim como ter em conta se os próprios inimigos também estão bem desenhados para o jogo.
Como referido acima, esta jogabilidade é bastante simples. Em termos de movimentação, como correr, andar, agachar, saltar por cima de objetos, ou atirar os mesmos, a jogabilidade está bastante bem concebida, não havendo quaisquer bugs ou problemas. O único aspeto negativo é a nossa protagonista não poder saltar sem ser em alguns momentos do título, o que é bastante chato algumas vezes.
Acerca do correr, a nossa protagonista tem asma e, como tal, esta não pode correr para sempre, tendo uma barra de stamina. A forma como o correr foi desenhado, conciliando isso com a stamina, foi bastante bem concebido para o título, o que torna a jogabilidade ainda melhor.
Para nos defender dos monstros que assombram a nossa cidade, a nossa protagonista tem uma lanterna que pode apontar para matar as criaturas. Essa lanterna tem três tipos, sendo que cada tipo apresenta uma bateria maior. Para matar estes basta usar a mecânica de apontar a lanterna para os pontos fracos dos inimigos até que estes morram e, esta está muito bem concebida e é uma forma inteligente de lidar com os próprios.
Os próprios inimigos também estão muito concebidos, sendo mais assustadores do que parecem. Estes têm poucas mecânicas mas é o suficiente para assustar qualquer um, até os mais corajosos. Também os bosses estão muito bem concebidos, tendo mecânicas básicas mas bem concebidas para cada um deles, o que os tornam fantásticos.
Dito isto esta jogabilidade foi gratificante, sobretudo, por estar muito bem concebida para este título, apesar de simples mas, ao mesmo tempo, fantástica e bastante bem enquadrada com a própria personagem, assim como os nossos inimigos, o que faz desta jogabilidade simples mas adequada ao título.
Ambientação — bastante tenebrosa
Outro aspeto que temos de avaliar neste título é a sua ambientação que, é um dos aspetos mais importantes do mesmo pois é o que proporciona uma grande parte do terror do título, podendo já afirmar que faz um trabalho extraordinário no que toca a esse aspeto, o que me surpreendeu pela positiva.
O mapa de Gylt é, para o tipo de título, enorme e muito bem concebido para o tipo de narrativa com a qual somos confrontados, fazendo desta muito mais assustadora do que realmente é, o que faz deste título uma obra-prima do terror como grandes outros títulos que já vimos no mercado de maiores dimensões e produções.
Todos os cenários que nos acompanham ao longo da nossa jogabilidade estão muito bem concebidos para os tipos de encontros que temos com inimigos e bosses ao longo do título, assim como para todas as situações de puzzels que enfrentamos ao longo do mesmo, o que tornam a experiência muito mais aterrorizante.
Para além disso, o terror que o título proporciona com os seus inimigos e situações é bastante amplificado pela ambientação deste, através dos seus sons e cenários simplesmente tenebrosos e que, muitas vezes, nos fazem não querer sair do sítio, algo simplesmente impressionante para um título deste calibre.
O único problema que considero que esta ambientação apresenta é não ser totalmente um mundo aberto, pois as várias áreas do título estão divididas entre si, o que acaba por degradar um pouco o título por obrigar o mesmo a ter inúmeras telas de carregamento, que não são tanto um resultado do desempenho mas sim da forma como o mapa do jogo está sedimentado, o que arruína um pouco a experiência do título.
Desta forma, resta apenas atribuir uns fantásticos 8 em 10 valores a esta magnífica ambientação que sem dúvida alguma consegue elevar o terror do título a níveis de nos fazer perder a cabeça e nos assustarmos por completo, o que é fantástico para um título indie destas dimensões.
Qualidade gráfica e desempenho — no ponto
Antes de avançarmos para o veredicto, é primeiro preciso analisar as qualidade gráfica e desempenho deste tenebroso título na plataforma onde o analisei, o PC, através da Steam. É possível afirmar que, desde já, este não se trata de um título muito exigente mas, de qualquer forma, temos de confirmar de que este está bem otimizado para as plataformas onde está disponível.
No que toca ao desempenho, para o meu PC que contém uma Nvidia Geforce RTX 3070, da MSI, com 8 GB de VRAM DDR6; um i7-11700K, da Intel, com 8 núcleos e uma frequência turbo de 5.0GHz; e ainda 32 GB de memória RAM DDR4, da G.SKILL; o desempenho no mesmo foi bastante bom, não tendo uma grande variação de fps durante toda a minha gameplay.
Explorando melhor o desempenho do título no meu PC, este foi excelente, conseguindo maioritariamente alcançar os 240 fps na maioria da minha gameplay com os gráficos no Ultra, o que é fantástico e, ao mesmo tempo, de esperar devido à qualidade gráfica do título.
Em termos desta, esta não é nada má, sendo bastante boa e avançada para um título Indie deste género. A qualidade gráfica foi das coisas que me deixou de boca aberta neste título pois, não estava à espera que fosse assim tão pormenorizada e detalhada para este simples título, o que é fantástico.
A qualidade gráfica é adequada ao título mas, apesar disso, houve alguns momentos em que as texturas não renderizaram por completo, assim como alguns bugs visuais, o que a degrada um pouco mas, de um modo geral, está no ponto, juntamente com o desempenho, atribuindo uma pontuação idêntica para esta categoria.
Veredito — é mais assustador do que parece
Quando vi este jogo pela primeira vez, não pensei que fosse assim tão assustador, talvez pela narrativa ou os gráficos mas, tenho a dizer que o título não fica aquém das expectativas nesse aspeto, pelo que consegue assustar, merecendo a sua classificação de terror.
A sua narrativa, apesar de não ser muito atraente à primeira vista, consegue prender qualquer ao título e obrigá-lo a concluir o mesmo, juntamente com a sua jogabilidade simples mas, ao mesmo tempo, adequada à narrativa e ao título em geral.
Desta forma, resta-me agradecer a oportunidade de poder ser aterrorizado por este fantástico título que me surpreendeu pela positiva, especialmente, à BestVision por nos ter cedido o título para a análise escrita. Recomendamos, por isso, ao público em geral, especialmente a quem aprecia um bom título de terror, sobretudo, por ser mais assustador do que parece num primeiro contacto.