Análise de Gran Turismo 7 — um jogo «state of the art»: Review

Gran Turismo — a série de corrida automóvel mais emblemática da Playstation — regressa para substituir Gran Turismo Sport. O título chega numa altura em que a comunidade ansiava por novos jogos ou simuladores de corrida. Gran Turismo 7 mostra-nos como tem sido uma série inovadora e que revolucionou o mundo dos videojogos na medida em que aproxima milhares de jogadores daquilo que é o mundo automóvel.

Este título é da responsabilidade da Polyphony Digital que garantia que este seria o retorno aos primórdios da série Gran Turismo com base naquele que tem sido o desejo dos jogadores, bem como, do próprio responsável da Polyphony Digital. Mas terá a Polyphony conseguido alcançar o seu objetivo? Confira a nossa análise a este jogo tão promissor e compreenda a nossa opinião sobre o assunto.

De modo a garantir que temos uma opinião bem formada, tenha em consideração que contamos com mais de 530 horas de jogo em Gran Turismo Sport — o que julgamos ser mais que necessário para traçar alguns pontos decisivos para a concretização da análise, bem como, de toda uma opinião baseada em factos e critérios comparáveis com a maioria dos títulos da série.

Ambientação — promissora!

Gran Turismo 7 trouxe algumas das funcionalidades mais icónicas da série — o modo campanha, arcade, escola de condução, entre outros — que já eram muito ansiados pela comunidade, dado que, Gran Turismo Sport estava focado quase em exclusivo para o modo multijogador online. Entre diferentes cenários e construções narrativas, o jogo mostra-se dinâmico, colocando-nos sempre no centro da ação, mas sobretudo, interagindo e forçando a que nunca estagnemos na terceira pessoa — algo que pode destruir a experiência de qualquer jogo.

Gran Turismo, ao contar com 90 circuitos, ciclos climáticos bastante realistas e captação fidedigna dos espaços cénicos, conseguem-se momentos memoráveis em independentemente da circunstância ou modo escolhido. Entre os demais circuitos, destacamos aqueles que eram os mais esperados — prometidos para uma comunidade de aficionados e amantes do mundo automóvel — ou seja, Le Mans e Nürburgring (este último que deve corresponder a +500 horas jogadas por mim em GT Sport).

Algo que faltou, efetivamente, em Gran Turismo Sport foi a quantidade de veículos (ainda que não só) visto oferecer pouco mais de duzentos em comparação com outros títulos similares da concorrência. O título passado era digno de ser comparado com títulos como Forza Motorsport ou Asseto Corsa (e até mesmo com Project Cars 2). Contudo, Gran Turismo 7 não apenas alcançou, como arrisco dizer que ultrapassou qualquer simulador automóvel contemporâneo disponível no mercado.

Este título chega-nos com uma representação quase perfeita de 400 veículos — que não apenas estão representados, como também permite que sejam personalizados — que podem ser equipados com alterações associadas (em várias situações) aquilo que são as alterações possíveis (na realidade). O comportamento de qualquer um dos veículos em relação ao ambiente é inédito na série — graças ao trabalho de textura e renderização dos reflexos de luz — que tornam a experiência ainda mais imersiva.

O sistema climático foi outro grande avanço. Habitualmente, verificamos que todos os jogos procuram incorporar um sistema climático, mas que afeta sobretudo a nível estético e não prático a experiência de jogo. Em Gran Turismo 7, foi dado o passo seguinte ao conseguir-se que as alterações climatológicas tenham efeito prático como a alteração das condições do circuito e do comportamento de um veículo.

Por exemplo, durante uma das provas realizadas, utilizamos um compacto desportivo de tração dianteira turbo assistido num circuito seco, no entanto, após a primeira volta, começou a chover com alguma incidência e as alterações começaram a fazer-se sentir tanto na dianteira, como sobe aceleração, gerando situações de sub-viragem e sobre-viragem (understeering e oversteering, respetivamente). Isto fica mais evidente à medida que aumentávamos a velocidade e o balanço do veículo fica mais comprometido e instável.

Esta geração — Playstation 5 — permitiu também conseguir-se feitos incríveis ao nível da iluminação no exterior e interior do veículo fazendo esquecer (em algumas circunstâncias) que estamos perante um jogo e não a realidade de um veículo de circuito. Os interiores dos veículos estão mais ricos do que nunca e são dignos de ser mencionados — algo que faremos mais adiante — sobretudo para os jogadores que procuram a visão do habitáculo.

Além daquilo que é a realidade na pista (talvez a mais importante), várias foram as alterações que ocorreram fora do palco — diga-se os modos de jogos e a componente narrativa e de ligação entre a parte prática — as corridas —, a carreira e a construção de um perfil de jogador. O compromisso é criar um perfil de piloto colecionar e não apenas de um piloto que joga nas competições multijogador. O sistema de progressão evoluiu favoravelmente para algo equilibrado e que permite evoluir dentro de jogo de forma pouco exagerada.

Os jogadores evoluem mediante o seu compromisso para com a qualidade da condução, mas também, para com a quantidade de missões ou atividades que fazem. Cada tipo de veículo tem uma história e a Polyphony Digital fez questão de o lembrar com a criação do «Café», um espaço onde são atribuídas as missões que permitem desbloquear (numa fase inicial) grande parte das funcionalidades de jogo e que vão permitindo aos mais novos (ou mais desatentos) compreender a evolução do mundo automóvel.

Este compromisso para com a história sempre foi uma prioridade, sobretudo com a criação do «Museu» que chegou pela primeira vez com Gran Turismo 5, mas que ganhou notoriedade com Gran Turismo Sport. Em GT7, o «Museu» está de regresso e presta uma maior utilidade do aquela que foi dada em GT Sport (que tinha mais visão enquanto estávamos no menu principal) face a Gran Turismo 7 que conta um posto (espaço) dedicado no mapa ou mesmo na nossa própria garagem, pelo que, cada veículo que possuí tem uma história que pode ser observada na carta do próprio veículo.

Aspeto gráfico — o melhor até agora!

Gran Turismo 7 é, provavelmente, o segundo jogo da nova geração de consolas que mostra as verdadeiras potencialidades da Playstation 5. Seja pela fiabilidade, pela resolução ou pelas texturas francamente elevadas. O ray-tracing é uma realidade que acrescenta interesse para a comunidade, mas sobretudo, para quem assiste a estes eventos (depois da corrida). Em qualquer uma das situações, o foco é manter, no mínimo, sessenta frames-por-segundo.

Em matéria de aspeto gráfico, aquilo que foi mais inédito por parte da Polyphony foi conseguir que na resolução máxima (seja dinâmica ou não) se consiga manter uma faixa estável para que nunca seja comprometida a sua experiência de condução. Isto deve-se sobretudo ao «hardware» e ao motor gráfico que tem sido otimizado para alcançar o patamar em que está presentemente.

O desenvolvimento pensado para a nova geração foi essencial para a conceção e resolução de maior parte dos problemas que costuma surgir na criação de um jogo para uma plataforma recente. Em determinados jogos, ao contar com uma elevada resolução, verificamos não haver uma correspondência próxima daquilo que deveria ser os pormenores por forma a não existirem imagens granuladas. Gran Turismo 7 trouxe texturas incríveis e que recriam tudo ao pormenor, principalmente, ao nível dos veículos que refletem aquilo que são os traços reais.

A abordagem em matéria de opção de escolha de «performance», a Playstation 5 dispõe de duas categorias de processamento para o título — Gran Turismo 7 — o «modo de prioridade para ray-tracing» ou «modo de prioridade para frame-rate». O primeiro modo permite que recorra ao ray-tracing em situações em que não corre (dirige) ou na repetição da corrida. O segundo modo exclui a abordagem mais agressiva de ray-tracing e melhora a quantidade de frames por segundo.

Modo Carreira e Outras Funcionalidades

Este jogo marca o regresso da série ao modo carreira, depois de uma interrupção com Gran Turismo Sport que estava pensado para a experiência nos eSports — com acordo com a FIA para homologação dos mais de 200 veículos disponíveis — e que trouxe a experiência solo e de criar uma campanha como já não acontecia desde 2010, com o lançamento de Gran Turismo 5.

O «modo café» é, na nossa opinião, essencial para dinamizar o rumo da campanha em Gran Turismo 7, pois não só permite ter uma ideia dos objetivos a concluir para avançar, como tem o papel de ensinar por meio de tutoriais e pequenas curiosidades acerca das várias funcionalidades no modo carreira, bem como, dos diversos veículos que temos ao dispor. Para o jogo, os jogadores são vistos como colecionadores, pois grande dos avanços fazem-se pela aquisição ou oferta de veículos para progredir na história — em que algumas das recompensas são veículos — assim sendo, e para fazer face a esse objetivo, existe um sistema de progressão que permite desenvolver um nível de colecionador.

Este sistema está suficientemente bem construído para não existirem abusos nas recompensas — impossibilitando o «grind» nas recompensas ou nos pontos para avançar de nível — se pretende progredir, tem de «trabalhar» para isso. Quer as remunerações monetárias, quer o recebimento de pontos de colecionador permitem um avanço regular e de fácil compreensão para que o jogador sinta que avança verdadeiramente no jogo — estabelecendo um claro objetivo e compromisso de avançar ao longo de toda a campanha.

Para acompanhar este espírito, a Polyphony implementou uma ordem de desbloqueio, seja através de recompensas ou por missões, os jogadores podem ir recebendo peças para a personalização mecânica dos seus automóveis, veículos novos ou até quantias monetárias que irão permitir adquirir veículos novos ou usados — estes últimos que irão permitir adquirir carros com maior quilometragem para gastar uma quantia menor do seu orçamento, tirando prazer de alguns dos automóveis mais icónicos do mundo.

Ainda no âmbito da criação do «modo café», grande parte da personalização que é agora disponibilizada com Gran Turismo 7 pode ser conhecida através do responsável do Café que nos vai informando, dando dicas e alguns tutoriais de que forma pode abordar a personalização do seu veículo, seja ao nível desempenho ou através da estética. A oficina ou o posto de transformação (estética) irá sendo desbloqueada ao longo do decorrer da campanha.

Esta abordagem em matéria de roteiro tem surpreendido bastante, sobretudo, pelo facto de termos estado afastados de algo novo há mais de 12 anos, o que implica que para os jogadores mais antigos — exista um efeito nostálgico agradável — e para o novos jogadores, alguma curiosidade face ao entusiasmo da comunidade mais aficionada de Gran Turismo.

Depois do requinte do Café — que, no fundo, é um ponto de encontro — a personalização dos veículos na oficina é aquilo que mais prazer nos dá mais prazer, logo a seguir a fazermos o test-drive em pista (depois de aplicadas das alterações) ou a corrermos contra os nossos oponentes — pois conseguimos experimentar toda uma panóplia de soluções para fazer face às nossas necessidades operacionais no circuito ou do próprio carro. A cada alteração, o som e o comportamento do carro eram evidentemente diferentes — não há dúvidas nem sensações de… «mas será…?» sim, a Polyphony dedicou grande parte do seu trabalho a recriar uma experiência mais realista.

Jogabilidade — a melhor dos últimos 20 anos!

Gran Turismo 7 consegue igualmente, na componente de jogabilidade, um novo marco na evolução das físicas dos veículos. Ao celebrar os 25 anos de existência, Gran Turismo optou por contar com um vasto conjunto de ideias e conselhos de alguns especialistas ligados ao setor, dos quais destacamos Igor Fraga e Lewis Hamilton como dois (entre vários) pilotos que contribuíram para podermos dizer que este jogo, não só consegue ser divertido, como passa de um mero jogo com aspirações a simulação, para um simulador automóvel incrível.

Isto fica notório, pois ao utilizar um conjunto de volante e pedais Thrustmaster, conseguimos ter uma perceção completamente diferente em relação a Gran Turismo Sport. Enquanto no antecessor, existia uma estranha tração inexplicável nos mais diversos veículos na sua abordagem à pista, Gran Turismo 7 não só superou esse problema, como ao introduzir uma maior dinâmica climática e de interação com o circuito, acrescentou maior dificuldade e interesse na abordagem do espírito entre o homem e a máquina (no sentido figurativo).

Esta dificuldade não tem de ser exasperante, pois para os jogadores que se quiserem aventurar neste novo título, pode contar com inúmeras ajudas à condução para que não fique de fora deste jogo/simulador automóvel. Para os jogadores mais exigentes, a desativação destas ajudas, colocam-no nas situações mais agradáveis e mais dramáticas (dependendo da situação climática). Por exemplo, em circuitos mais chuvosos, a dinâmica de abordagem à curva, a tração, o apex e outros fatores ganham uma importância extrema no cuidado de inclinação do volante ou da pressão dos pedais.

Poças e alguns lençóis de água podem ser traiçoeiros o suficiente para começar no pódio e acabar no final do pelotão. «Aquaplaning» e outros fatores reais terão um impacto significativo no circuito. Aliás, o próprio circuito vai alterando as suas condições à medida que os veículos passam com frequência em algum do traçado do circuito. As temperaturas do asfalto mudam e até dos pneus dos próprios carros, influenciando naturalmente a tração do veículo no asfalto.

Alterações de potência ou do desempenho geral do veículo têm uma influência real no comportamento do carro — para o bem e para o mal — pois, um aumento desmedido da potência obriga-nos a uma gestão extrema do acelerador e da travagem, sobretudo, se estiverem com as ajudas desativadas (como foi o nosso caso). Alterámos um veículo compacto tanto ao nível de suspensão, caixa de velocidades e turbo e o comportamento do carro passou a ser mais instável, mas também incrivelmente mais forte que os oponentes em pista.

Fugas de traseira e de frente passaram a ser uma realidade. Ao aplicar alterações em veículos de tração dianteira, o «understeering» passou a fazer parte da corrida, tendo de controlá-lo até ao ponto em que se torna indirigível numa subida desnivelada em que as rodas exercem tanta força que perdem o contacto linear com os asfalto. Aqui, pela ausência de ajudas como o controlo de tração e de estabilidade desativados levou a que fosse um trabalho de controlo do piloto e de perceção de comportamento do carro para lidar com a situação.

É esta emoção que julgamos ser a esperada por um vasto grupo de jogadores que vê em Gran Turismo um refúgio para aquilo que não pode ou não consegue experimentar fazer na realidade. Para muita gente, o mais próximo de entrar num circuito automóvel são precisamente jogos como este. Não existe um desgaste nem do carro, nem custos associados ao desgaste de elevarmos o carro ao limite com o acréscimo de risco para a nossa própria vida. Em casa, em frente ao monitor, os gastos e os riscos são diminutos comparativamente a entrarmos em pista com um veículo que habitualmente não levamos ao limite.

Veredito — um título «state-of-the-art»!

Gran Turismo regressa a um patamar que nunca deve abandonar. É aquilo que chamamos um jogo «state-of-the-art». Prima pela beleza, pelo compromisso para com a realidade e, sobretudo, pelo prazer que presta aos jogadores que delem usufruem. O «Estado da Arte» é algo forte para se apelidar a um jogo, no entanto, não nos arrependemos nem cansamos de o reafirmar.

Contudo, como qualquer jogo, também tem desvantagens, sobretudo, ao nível da física das batidas que não viram grandes alterações face ao antecessor. Quando colidimos com outros veículos ou com o cenário, isso não se reflete na estrutura física do veículo — o que se percebe por um lado o motivo, mas que não deixa de ser desapontante — pressupõe-se que os jogadores evitarão colisões e terão algum cuidado na abordagem, mas também pelo peso que isso colocaria sobre o motor gráfico para conseguir também representar colisões.

É evidente que a grande maioria dos jogadores prefere que as colisões sejam diminutas a observarem as capacidades dinâmicas do carro em pista reduzidas para albergar mais um sistema dinâmico in-game. Isto aliado com uma IA mais forte e que não está lá para facilitar o jogador. Quando maior for a experiência do jogador, maior a dificuldade da IA ao colocar obstáculos ao jogadores, ao bloquear, cortar numa curva, por exemplo.

Agradecemos a cedência por parte da Playstation Portugal desta cópia de «Gran Turismo 7» permitindo assim expressarmos a nossa opinião de forma isenta e dar continuidade ao legado de conhecimento e experiência que temos alcançado com a série e que nos trouxe até aqui. Obrigado por nos ter acompanhado até ao fim. Acompanhe as nossas redes sociais e mantenha-se sempre próximo das notícias mais relevantes que marcam o dia ou a semana.

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