«Politicnologia», a falsa diplomacia tecnológica

Muitos viram a tecnologia como forma de expandir as fronteiras e de libertar os lugares fechados do mundo, enquanto outros viram as possibilidades de controlar a sua população reforçadas. Pelo meio existem interesses ciberdemocráticos pouco éticos.

O Reino Unido está hoje no centro das atenções do mundo tecnológico e não pelas melhores razões. As terras de Sua Majestade estão a exportar tecnologias de vigilância para nações com sistemas políticos repressivos. A chamada de atenção é feita pelo jornal The Guardian e segundo a investigação dos repórteres Jamie Doward e Rebecca Lewis, o software britânico pode estar a ser utilizado para encontrar dissidentes e activistas políticos. Em Março de 2012 a União Europeia aprovou um directiva que proibia a venda de equipamentos e sistemas de vigilância à Síria e ao Irão devido à existência de fortes violações dos direitos humanos nesses países. Mas segundo o grupo Privacy International, tudo continua na mesma.

Segundo as denúncias da organização não governamental cerca de 30 empresas do Reino Unido  e outras 50 Estados Unidos da América exportaram tecnologias de vigilância para países como a Síria, Iémen e o Bahrain. Alemanha e Israel também são apontados como fortes vendedores neste mercado tecnológico que por ano chega a movimentar 3,6 mil milhões de euros em capital. Entre os produtos vendidos estão torres de monitorização que parecem antenas das operadoras telefónicas, software que infiltra-se nos computadores dos utilizadores e passa despercebido, e trojans que permitem aos elementos informáticos do governo activar remotamente os microfones e câmaras dos computadores da população.

O Privacy International entrou em contacto com mais de 160 empresas que comercializam produtos tecnológicos de vigilância e até ao momento apenas dez grupos responderam de volta afirmando que não fazem comercialização com governos não democráticos. Segundo Erik King, líder da ONG “a ideia de que este tipo de questões não é um problema britânico, está errada. Daqui a algum tempo essas tecnologias vão estar desactualizadas e esses países não têm conhecimento para resolver essas questões”, ou seja, serão as empresas britânicas as responsáveis por continuar a suportar acções pouco respeitadoras dos direitos humanos.

Os porta-vozes de Downing Street já responderam aos responsáveis da Privacy International assegurando que estão atentos à situação e que estão a trabalhar em conjunto com a UE no controlo às exportações de equipamentos de vigilância. Mas segundo a mesma reportagem do The Guardian, o próprio governo britânico quer introduzir um controverso sistema de vigilância mais moderno no Reino Unido.

Desse sistema faz parte uma medida que pretende dar liberdade de acesso às contas de email da população às forças policiais. A resposta veio através de um ataque do grupo Anonymous ao Ministério do Interior Britânico, deixando a página inacessível por mais de três horas. O ataque teve lugar a 7 de Abril, o sistema usado foi o mesmo de sempre, «inundação» dos servidores, e como de costume, a vitória foi festejada no Twitter.

Ainda dentro do controlo tecnológico e segundo a TVI24, David Cameron, primeiro-ministro britânico, gere todo o seu governo através de uma aplicação de iPad desenhada especialmente para o efeito. Chamada de iMinister, a aplicação foi desenvolvida por desenvolvedores próximos ao gabinete do PM e permite monitorizar em tempo real as acções dos seus colaboradores mais próximos, feeds do Twitter e outras informações relevantes para a governação do país. O desenho e construção da app terá custado 24 mil euros.

Enquanto o Reino Unido continua a fazer o seu papel de bom, mau e vilão, o Irão, graças à bondade britânica e norte-americana, continua só a fazer o papel de vilão mas a triplicar. Segundo avança o semanário Sol, o governo de Teerão está quase a terminar o projecto de uma «Internet própria» que vai tirar os iranianos da restante rede mundial. Esta Intranet nacional vai ser capaz de bloquear o acesso a sites que têm como origem países estrangeiros, entre os quais grandes serviços como o Google, Gmail ou o Facebook. O governo está a disponibilizar o acesso a serviços semelhantes mas que são controlados construídos pelo governo iraniano.

Alguns serviços começam a ser já bloqueados no mês de Maio, mas é para Agosto que está previsto o grande «shut down» da Internet mundial. O site dos jogos olímpicos de Londres 2012 já está a ser bloqueado pelas autoridades iranianas, que redireccionam os internautas para a página da agência oficial do Irão. Em causa parece estar o uso da palavra Zion no logótipo do evento e que em hebraico faz referência à terra santa de Sião, perto de Jerusalém. Reza Taghipour, ministro das Tecnologias de Informação e Comunicação do Irão, disse que a medida servia para tornar a Internet do país mais limpa.

No fim, interesses económicos, diplomacia política e claustrofobia social são os termos que juntos compõe actualmente a ciberdemocracia, palavra tão apregoada pelos académicos mas que tão dificilmente se tem imposto, ao ponto de países criarem a sua própria ciberdemocracia ditatorial.

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